Mulheres com Asas

Bons Voos.

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O BEM, O MAL E O FIM

Muitas vezes já me peguei pensando nas minhas atitudes sobre a face da Terra. Embora eu tenha uma quantidade bastante razoável de defeitos, é claro que não me considero uma pessoa ruim ou má. Mas também disso não tenho certeza, pois tenho que contar com a possibilidade de que minha própria falta de modéstia, que é tecnicamente um pecado capital, tenha me levado a essa otimista conclusão. Mas esse auto-juízo não é privilégio meu. Em um julgamento superficial e sem qualquer base científica ou estatística, posso afirmar que a  grande maioria das pessoas se considera bastante aceitável sob a ótica ética e moral. E quando você vai a fundo para investigar as razões desta avaliação benevolente, acaba encontrando sempre uma resposta muito parecida: “não faço mal a ninguém”.

Não tenho grande conhecimento sobre a evolução do estágio psíquico, emocional e espiritual do homem através dos tempos. Mas qualquer um que tenha frequentado a escola pode identificar, sem nenhuma dificuldade, inúmeros exemplos de atrocidades cometidas ao longo da história da humanidade desde eras imemoriais. Sendo assim, embora não se possa afirmar com certeza que o homem de hoje seja dotado de bondade relevante, também não se pode asseverar que os espécimes anteriores tenham sido melhores que os atuais. E postos assim o postulado e a conclusão, o que se pode perceber é que, ressalvadas algumas poucas variáveis, o homem tem se mantido o mesmo em termos de caridade e benevolência, em comportamento absolutamente deficitário com relação aos mais elementares paradigmas filosóficos.

Dante Alighieri nasceu em Florença, Itália, no ano de 1265. Morreu cinquenta e seis anos depois e, desde então, tem sido considerado o maior poeta da língua italiana. Sua principal obra foi a famosíssima “Divina Comédia”, consistente em um poema escrito em dialeto local com estrutura épica e propósitos éticos. Divide-se em três partes, tais sejam o Inferno, o Paraíso e o Purgatório. A composição formal da obra baseia-se na simbologia do número três. Há três personagens principais: Dante, Beatriz e Virgílio, que representam, respectivamente, o homem, a fé e a razão. Cada estrofe tem três versos e cada uma de suas partes contém 33 cantos. E cada um dos três lugares são compostos por nove círculos, em uma fórmula matemática auto-explicativa.

A obra é complexa e parte de sua beleza se perde se você não tiver familiaridade com o idioma original. Não li a “Comédia” por inteiro, mas ouvi falar de um trecho que me chamou muito a atenção. Explico antes como é estruturado o Inferno. Formado, como dito, por nove círculos concêntricos, cada um destes trata de uma categoria de pecados e de pecadores. Isto é, dependendo da natureza do pecado, o morto permanece em um determinado círculo. Por exemplo, se você for um herege, seu lugar é no Sexto Círculo, conhecido como Cidade de Dite. Se você, diferentemente, for um traidor, será acomodado no Nono Círculo, também nominado Lago Cocite, sendo que, a depender da qualidade do traído (parente, pátria, hóspede, mestre ou rei), você deverá enfrentar uma Esfera específica.

Pois bem. A par destes Nove Círculos que bem descrevem a metodologia e critério do destino destas almas, o autor dedicou-se a explicar o que ele chamou de “Vestíbulo do Inferno” ou “Ante-Inferno”. Em sua odisséia subterrânea, os personagens deparam-se com almas desesperadas, correndo de um lado para outro. E indagando o Mestre, este respondeu ao interlocutor que aquele local era destinado às almas que não podiam ir nem para o Paraíso e nem para o Inferno. Elas não eram ruins o suficiente para sofrerem em algum dos Nove Círculos após transporem o Portal. Por outro lado, também nada haviam feito de bom que ora justificasse o seu ingresso no Paraíso. Faz sentido. E faz mais sentido ainda pensar que, mesmo já nesta complicada situação, estas almas também merecessem sua própria punição. Para Dante, as escolhas na vida determinam recompensas, positivas ou negativas. Ademais, quem se recusa a escolher é porque escolheu própria indecisão. E porque esta pessoa escolheu a indecisão deve ser tida por covarde. E porque é considerada covarde deve pagar por isso, correndo em filas atrás de uma bandeira e sendo perseguida por vespas e moscões. Assim funciona a morte naquele patamar.

Não sei o significado da bandeira e muito menos dos insetos no contexto da obra. De toda forma, parece intuitivo concluir desta passagem que não fazer o mal em nossas vidas não é lá grande coisa se você sempre tem a opção de praticar o bem. É quase como dizer que não fazer o mal não representa mérito algum, já que é mera obrigação.

Refletindo sobre isso, passei a reavaliar os meus conceitos sobre mim mesma. Tive de recuar em minha presunção de que ser inofensiva era o que me bastava. E vou ter que me dedicar a examinar esta questão da caridade com um pouco mais de atenção.

Como todos sabem, o bem e o mal possuem consequências. Eu mesma sou da opinião de que “aqui se faz, aqui se paga”. Porém, o que desejo destacar é que a apatia, a inação e a indecisão também pagam o seu preço, quer você seja religioso ou não. Pois assim como a maldade e a bondade podem encontrar eco nesta nossa vida cotidiana, a indiferença também há de produzir resultados em nossa existência.

Sendo assim, termino esta postagem como um conselho, que, embora não pedido, ouso dar à leitora, quiçá como uma tentativa de primeiro ato de bondade: além de não fazermos o mal, que tal tentarmos fazer o bem?

(Texto publicado originariamente em 11/05/12. Foto: Favim).

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NA TERRA DAS FADAS

Esta semana ganhei um presente muito especial do meu pai. Um livrinho sobre mitologia. Na verdade, ele é uma espécie de dicionário em que você pode encontrar, pelo nome, os principais personagens das maravilhosas histórias lendárias que se desenvolveram no berço da cultura romana, grega, egípcia, nórdica e celta. Imediatamente fui em busca de meu próprio nome e pude reviver, com emoção, aquilo que eu já sabia mas que se encontrava adormecido em mim há muitos e muitos anos: os fantásticos relatos sobre Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda.

De acordo com histórias medievais e romances contados através dos séculos, Arthur teria comandado, juntamente com seus fiéis cavaleiros, a defesa contra os invasores saxões chegados à Grã-Bretanha no início do século VI. E ele teria, também, sido aconselhado por Merlin, um sábio mago que, segundo tais relatos, conhecia todos os segredos do céu e da terra, da vida e da morte, dos homens e dos deuses. E muito embora tenha sido atribuída a Merlin a fama de feiticeiro, contam os entendidos que ele, na verdade, pretendia apenas assegurar a paz entre os povos. As histórias arturianas são tão ricas em detalhes que muitos acreditam que se trata de relatos absolutamente verídicos.

Dizem também estas histórias que o famoso círculo de pedras britânico teria sido construído por Merlin, o qual teria providenciado, no ano 300 A.C, o seu transporte, pelo ar, desde o País de Gales. Mas se Merlin era dotado de poderes especiais, tinha também seu lado humano. E foi assim que ele teria se apaixonado por Viviane, também conhecida como “A Senhora do Lago”. E tamanha teria sido tal paixão que Merlin, cego de encantamento, teria entregue à sua amada todos os segredos que ele, até então, guardava com absoluta exclusividade. Viviane era filha de Diana, a deusa dos bosques, e irmã mais velha de Igraine, mãe de Arthur. E foi nesta condição de tia que Viviane teria concedido a Arthur a famosa Excalibur. Este importante ato teria acontecido em Avalon, sagrada ilha bretã regida por sacerdotisas. A famosa Fada Morgana era meia-irmã de Arthur e teria sido treinada por Viviane para sucedê-la em sua missão de assegurar a paz e a sabedoria, tornando-se a nova líder desta terra insular.

Ao que consta, estas narrativas, embora não verdadeiras, guardam estreita relação com as antigas cultura e religião celtas. Historicamente, a expressão “celta” é a designação dada a um conjunto de povos organizados em múltiplas tribos pertencentes à família linguística indo-européia e que se espalhou pela maior parte do oeste da Europa a partir do segundo milênio antes de Cristo. Tal etnia, assim definida como os povos que falavam o idioma celta, transmitiu a sua história através das tradições e do folclore. Pouco se escreveu a respeito e o que se sabe destes grupos deveu-se à mera perpetuação dos costumes.

Os celtas exaltavam a força da Terra e a natureza era considerada a expressão máxima da Deusa-Mãe. Embora a sociedade não fosse rigorosamente matriarcal, as mulheres possuíam grande importância em sua dinâmica e funcionamento, na medida em que a Divindade Superior era um ente feminino. E tanto as forças do Universo regiam suas crenças que os celtas não construíam templos. Suas reverências aconteciam nos bosques para propiciar a adoração aos vários elementos da natureza. Infelizmente, a religião celta perdeu-se no tempo. As reminiscências que ficaram resumem-se basicamente à wicca e suas derivações, as quais ostentam conteúdo pagão e incluem rituais de bruxaria. Seus princípios originais e sua essência primeira não permaneceram.

Em pouco mais de um mês, visitarei a Grã-Bretanha e se eu tiver tempo, visitarei alguns locais importantes da história celta. Pretendo ir a Stonehenge e contemplar de perto esta misteriosa obra. Pretendo comprar alguns livros. Pretendo conversar com as pessoas locais para compreender um pouco melhor estes povos. Com sorte, conseguirei.

É claro que sei que todas estas histórias fantásticas são lendas. Mas, mesmo assim, gosto de pensar que a sacerdotisa-maior de Avalon se chamava Viviane e que foi ela quem, tal como uma fada, entregou a espada mágica para seu sobrinho Arthur. Gosto também de imaginar as aventuras vividas por Merlin e sua amada quando teriam percorrido toda a Europa no dorso de um cavalo. E gosto de reproduzir em minha mente como seriam as visitas às florestas para homenagear a mãe-natureza.

As lendas são maravilhosas e nos fazem sonhar. São estas histórias que fazem a nossa imaginação funcionar e que giram a engrenagem do mundo.  Estas narrativas resgatam a doçura dos antigos tempos e a força de um ser humano impulsionado pela honra e pela coragem. Heróis e princesas fazem falta nos dias de hoje. E por isso mesmo os Contos de Fadas são tão interessantes e fascinantes: eles nos fazem acreditar na existência de um mundo melhor, em que a paz possa reinar.

E, pensando agora, talvez seja a esta a razão pela qual estes relatos místicos ainda existem de forma a sobreviver à própria realidade.

(Texto originariamente publicado em 08/05/12. Foto: Pinterest).

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AS MARCAS DO CORPO E DA ALMA

Em uma sexta-feita ensolarada do último mês de fevereiro, decidi fazer um passeio de barco na maravilhosa praia de Waikiki, em Honolulu, Capital do Havaí. O catamarã escolhido se chama Mana Kai e costuma ficar ancorado bem no meio da praia, exatamente em frente ao hotel em que eu estava hospedada, o Aston Waikiki Beachside. O passeio dura cerca de uma hora e por meros US$20 você tem uma excelente visão de toda a costa.

Subi na pequena embarcação e ao meu lado sentou-se um americano de meia-idade que se dizia amigo do dono. Como o proprietário do barco não se achava a bordo, não pude aferir a veracidade desta informação, a qual, honestamente, era completamente irrelevante. Cerca de dez minutos depois, o barquinho saiu e comecei a ver, à distância, os contornos urbanos e naturais daquela ilha tão especial, verdadeira pérola flutuando sobre o Oceano Pacífico.

Em um dado momento, o tal americano me perguntou sobre uma cicatriz vertical nas minhas costas, ao que, sem qualquer problema, expliquei a ele que havia me submetido a uma cirurgia no mês de maio do ano passado para a retirada de uma hérnia extrusa. Ele reparou também que eu tinha cicatrizes nos meus dois joelhos. Contei a ele, então, que tive que fazer uma correção cirúrgica na rótula esquerda e que havia retirado o menisco do joelho direito devido a uma lesão por sobrecarga de esportes.

Costumo ter muita paciência e tolerância com as pessoas e, embora tenha achado de péssimo gosto a piada do americano, não deixei de aproveitar o momento e sentir a brisa fresca no meu rosto. O americano havia me chamado de Mrs. Frankenstein e comentado o fato com os outros passageiros.

Fiquei pensando, então, naquelas minhas cicatrizes pelas quais tenho muito amor e respeito. E cheguei até a achar engraçado que eu tivesse merecido o deselegante apelido mesmo sem que ele tenha contabilizado as outras marcas do meu corpo, pois, além daquelas três, tenho ainda a cicatriz da cesariana e de uma mamoplastia que fiz aos dezoito anos para a redução dos meus seios.

As cicatrizes do meu corpo contam a história da minha vida e, para mim, são muito belas. Cada uma delas representa um importante acontecimento e todas elas podem ser consideradas como marcos de mudanças sem as quais eu não teria crescido e me tornado a pessoa que hoje eu sou. Sinceramente, não compreendo como uma pessoa pode se envergonhar dos desenhos que narram a sua própria existência.

E assim também são as cicatrizes da alma. Elas fazem a narrativa do seu desenvolvimento como ser humano. As quedas, derrotas, insucessos e fracassos deixam vestígios indeléveis que jamais serão apagados, já que o passado ninguém pode mudar. Mas no presente eles são indolores e inofensivos. E por isso mesmo estas marcas são tão maravilhosas e ali devem permanecer.

As feridas do corpo e da alma doem, latejam, cortam, ardem, sufocam, queimam e merecem ser cuidadas. Já as cicatrizes não provocam mais nenhuma sensação de desconforto. São apenas os traçados da sua própria jornada.

Amo as minhas cicatrizes. As do corpo e as da alma. Quando penso nelas, posso me recordar, sem sofrimento ou vergonha, de tudo o que aconteceu e de como as intervenções em cada qual das lesões foram bem sucedidas. Nunca pensei em corrigi-las ou escondê-las. Ao contrário, tenho orgulho delas e dos episódios relevantes que elas ainda contam.

A navegação seguiu como prevista e, ao desembarcar segura nas brancas areias da praia, tive a sensação de que durante o passeio aprendi mais uma importante lição. Nossas vidas deixam rastros visíveis que podem incomodar. Por outro lado, eles sinalizam também qual o trajeto percorrido até aqui e como nos saímos até então. Podemos, então, desta maneira, saber se estamos no caminho certo rumo ao próximo  porto ou se ainda há algo, lá atrás, que precisa de cuidado e atenção.

E agora você já sabe. Quando as suas feridas finalmente viram cicatrizes você torna-se vitoriosa de si mesma e preparada para novos voos. Já não há dor. Somente lembranças. Já não há sofrimento. Apenas recordação. E então você pode seguir em frente, mais uma vez, sabendo que sempre há o risco de outros acidentes e quedas. Mas também com o conhecimento e com a convicção de que sempre há a possibilidade de satisfatória recuperação.

(Texto originariamente publicado em 04/05/12. Foto: Favim)

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LIBERDADE EXISTE?

Para quem não sabe, mantenho no Facebook uma página oficial e um grupo de discussão, ambos homônimos deste Blog. Tem sido uma experiência muito amorosa e enriquecedora dividir o afeto e a amizade com muitas Mulheres Com Asas, que, ali, têm a possibilidade de compartilhar os seus sentimentos e as suas vivências. Como já comentei anteriormente, este Blog nasceu da vontade de contar a outras mulheres como tem sido viajar sozinha há mais de quinze anos, para destinos muito variados. E, de uma certa forma, ele tem alcançado a sua missão, pois muitas mulheres me escrevem para narrar que tomaram a decisão de empreenderem seu primeiro voo solo depois de conhecerem um pouco mais a dinâmica desta  espécie de jornada.

Curiosamente, alguns homens também me escrevem e participam ativamente da página oficial e do grupo, o que, na realidade, revela-se alentador. Para as céticas de plantão, informo que pude apurar que existem, sim, muitos homens sensíveis, compreensivos e que se interessam pela alma feminina. Há uma luz no fim do túnel.

No dia de hoje, um dos leitores do sexo masculino e que não conheço pessoalmente, fez duas postagens no mural do grupo, afirmando, categoricamente, que não existe independência e que a liberdade é uma ilusão. Confesso que, à primeira vista, os comentários me pareceram um pouco inadequados para o conteúdo da página. Lembrando-me, porém, que estou numa empreitada no sentido de compreender melhor as atitudes e pensamentos humanos, recuei dois passos em meu julgamento condenatório e achei melhor repensar, por mim mesma, as colocações daquele leitor. E passei a me perguntar, então, se a liberdade existe mesmo ou se me encontro vivendo em um universo paralelo e totalmente dissociado da realidade.

Não me filio a nenhuma linha religiosa específica. Porém, devo admitir que, em grande parte, a filosofia oriental atende aos meus mais legítimos anseios de ter respondidas aquelas perguntas primordiais que formulamos desde o dia em que começamos a raciocinar.

Sendo assim, é claro que entendo perfeitamente que o universo, dentro dos limites de grandeza que podemos vislumbrar, é uma gigantesca teia de interações, quer percebamos ou não. Até o nosso piscar de olhos provoca imperceptíveis movimentos na atmosfera, os quais, reverberando, produzem reflexos concatenados a interferirem na dinâmica atômica de todo o planeta. E, sob esta ótica, é possível mesmo afirmar-se sobre a interdependência de todos seres.

Liberdade é outra coisa. Embora estejamos associados e interligados a tudo o que existe de material e imaterial, há algo dentro de nós que parece ser exclusivo. Dependendo da sua crença, filosofia ou religião,  você poderá chamar essa essência de alma ou de espírito. Até mesmo se for ateia, há de concordar que suas ondas cerebrais atuam numa frequência diferenciada, capaz de tornar você um ser humano único.

E é justamente o reconhecimento desta individualidade que permite aos seres humanos sentirem-se livres,  haja vista que, neste estágio de consciência, você não se interessa em imitar alguém ou ser outra pessoa que não você mesma. Até porque é impossível emular as sutilezas da mente humana.

E é por isso que eu defendo, sim, a ideia de que a liberdade existe e que não está atrelada a nenhuma condição, tal seja o seu estado civil, origem, raça, idade, aparência ou capacidade econômica. E ela existe porque dentro de você há algo que é só seu e que é intangível a tudo o mais que possa existir. E exatamente  porque passa ao largo de todas as considerações humanas, aquela centelha elementar que ilumina o seu ser  permite que nela você inspire seus mais elevados sentimentos, como alguém que acende um fósforo na chama de uma vela.

E se você quiser reformular sua linha de raciocínio, pergunte a si mesma por que a liberdade não haveria de existir se dentro de você há um universo inteiramente seu.

Não sou dona da verdade e nem sei se ela tem dono. Mas tenho, para mim, que o expoente máximo da liberdade consiste em sentir e agir de maneira coerente com os contornos do seu Jardim do Eden, que não está sujeito à avaliação de mais ninguém. Ali, você faz o que deseja, arruma e planta como quiser, pinta, borda, dança, corre, voa, escreve, canta, encanta-se e sacia sua sede em fontes cristalinas. Chora e ri. Cai e levanta. E isso não é da conta de ninguém.

Não desrespeito a incredulidade e apenas lamento que não tenho como provar que a liberdade realmente existe. E sei que ela existe porque a vejo dentro de mim. Acredito naquilo que quero acreditar. E isso também é liberdade.

E se alguém ainda duvida e quer pelo menos um pequeno indício de que ela é real, lembre-se que mesmo sem o seu corpo físico você ainda é você. E lembre-se também que até um prisioneiro é capaz de sonhar e de contar as estrelas do céu.

(Texto originariamente publicado em 25/04/12. Foto Barefoot Blonde)

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O UNIVERSO DA BELEZA

Na manhã de hoje, estive na FAAP a convite de uma queridíssima amiga para o fim participar da mesa redonda de abertura do curso “O Universo da Beleza”, concebido dentro da própria instituição e integrante de seu Núcleo de Cultura. Além desta minha amiga, Dra. Náila Nucci, compuseram a mesa o Prof. Silvio Passarelli e outros três reconhecidos nomes do meio acadêmico e jornalístico, cujo brilho foi capaz de transformar aquela távola em uma constelação de primeira grandeza.

Durante a apresentação do projeto, os expositores traçaram considerações filosóficas sobre o tema, o que, confesso, teve o condão de surpreender-me pela vastidão e magnitude, inatingíveis como os confins do próprio universo. Foram tantas e tão complexas as observações, que acabei por constatar que eu jamais havia me dedicado a pensar sobre o assunto com a atenção que ele merece.

Em um primeiro olhar, o tema pode parecer singelo e óbvio, principalmente se for compreendido tão-somente sob a acepção do culto ao belo como alavanca ao atingimento da felicidade. Ninguém desafia esta realidade atual e não há quem não reconheça que a estética é uma meta a ser alcançada em todas as áreas da corporalidade, assim entendida como tudo aquilo que pode ser apreendido do ponto de vista material. Descobri hoje, porém, que a beleza vai muito além de sua própria aparência e penetra em campos muito mais sutis da existência humana. Alguém questiona a validade da existência da beleza que qualifica e guarda relação com as características da alma e do ser, em sua concepção espiritual?

O belo, a princípio, parece ser aferível de plano, mas não existe dúvida quanto ao fato de que muitos critérios são nutridos pela experiência cultural e pelas referências pessoais. Neste ponto, então, você pode acabar se convencendo de que a beleza é relativa e um tanto subjetiva. Mas se você admite esta premissa como inteiramente verdadeira, acaba por invalidar postulados universais. Quem descrê da proporção áurea utilizada pelo escultor grego Fídias ao conceber o Parthenon e legar a quase todas as áreas do conhecimento humano a constante real algébrica irracional representada pela letra Phi? E, num sentido mais prosaico, alguém consegue explicar como bebês de poucos meses são já capazes de manifestar suas legítimas preferências? Muito mais foi dito, debatido e questionado e é claro que eu tinha perguntas a fazer. Mas considerando que eu jamais havia me dedicado ao assunto, achei melhor levá-lo embora comigo para minhas próprias reflexões.Durante o dia, muitas coisas vieram à minha mente e pude então perceber que meu gosto desenfreado pelas viagens guarda íntima relação com a busca da beleza que existe na diversidade e na diferença. Diz-se que é afortunado aquele que tem a capacidade de apreciar o belo em sua essência bruta e dissociado dos paradigmas individuais. Talvez eu tenha nascido com sorte, ou talvez eu tenha apenas desenvolvido uma potencialidade disponibilizada a todos. Não sei. De qualquer modo, isto explica, em parte, o fato de que eu jamais tenha “desgostado” de um determinado lugar. Quando viajo, desligo minhas chaves pessoais e abandono qualquer parâmetro ou comparação. Vivencio as experiências na plenitude de como podem ser vividas e procuro olhar com olhos que enxergam sob outra perspectiva. E se a procura da beleza e seu consequente encontro constituem mesmo uma estrada para a felicidade, é por ela que eu pretendo continuar seguindo.  Dostoiévski dizia que “a beleza salvará o mundo”. Isso também eu não sei, filósofa que não sou. A única coisa que posso dizer é que o mundo, em si mesmo, já ostenta o atributo da beleza, que é ratificada e validada a cada novo olhar. Não sou ousada o suficiente para sustentar uma tese divergente da defendida pelo escritor russo. De toda forma, como uma assertiva não se contrapõe necessariamente à outra, apenas reafirmo que a beleza é facilmente visível, amplamente perceptível e bondosamente democrática. É só observar. Ela pode ser encontrada em qualquer lugar em que você esteja. Em quaisquer circunstâncias, em quaisquer condições.

(Texto originariamente publicado em 19/03/12. Foto: We Heart It).

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SOMOS TODAS LINDAS

Dia Internacional da Mulher. Acho válido, mas, a rigor, penso que não haveria necessidade de se criar uma data específica para esta espécie de comemoração.

E isto porque todos os dias são nossos. Sem qualquer exceção.

São nossos porque aprendemos a nos apropriar da vida e de tudo de bom que ela pode nos oferecer.

Com o tempo, desenvolvemos a arte de tomar posse de nós mesmas, de modo a afastar os ladrões dos nossos espíritos e das nossas inspirações. Aprimoramo-nos sempre na tarefa de defender o que é nosso por direito e por outorga da nossa própria existência, como resultado de todas as trilhas que duramente percorremos até aqui.

Nossos corpos são nossos. E são entregues a outrem apenas quando assim o desejamos.

Nossas almas são nossas e não são passíveis de aprisionamento.

Nossos corações são nossos e a ninguém é dado o direito de que sejam desestabilizados.

Nossos atos, certos ou errados, são fruto das nossas necessidades e incumbe apenas a nós mesmas o dever de julgar o seu acerto.

Nosso trabalho é o mais nobre que existe, pois foi elaborado com nossas mentes e com nossas próprias mãos.

Nossas amigas são como nossos espelhos, em que vemos a nós mesmas com muita nitidez.

Nossos filhos não são nossos, mas de nós vieram e por isso mesmo são seres sagrados.

Nossas casas são nosso santuário de amor.

Nossos altares são qualquer lugar do mundo em que possamos nos ver em sintonia com nós mesmas.

Nossos sonhos são secretos e inacessíveis.

Nossos sorrisos são as lamparinas que usamos para iluminar nossos caminhos.

E nossas lágrimas são as gotas de orvalho que enfeitam o jardim da nossa existência.

Nossa aparência é nossa forma de estar no mundo. E pouco importa como ela seja, porque nós somos nós, com tudo aquilo nos pertence. Sem mais nem menos. Apenas o que somos: aquela menina que cresceu mas que jamais abandonou seu poder de ser feliz, seus ideais e seus encantos.

E somos belas, muito belas, porque conhecemos este segredo. E é o que basta à nossa beleza. É o que  basta ao encantamento. É o quanto basta à poesia da vida.

Não há nada no universo que conspire contra e que se contraponha a esta verdade: somos todas lindas!

(Texto originariamente publicado em 08/03/12. Foto: Favim).

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AS INCERTEZAS DA VIDA

A vida é cheia de incertezas. Incertezas de vários tipos e que se manifestam de muitas formas diferentes. Existe a incerteza que tem a ver com a sua falta de definição a respeito de um determinado assunto. É a ausência de segurança quanto à decisão que precisa ser tomada. Existe também aquela incerteza que é uma espécie de desconfiança. É a dúvida sobre um fato estar ocorrendo, ou não. E existe a incerteza própria do mundo e da vida, que é a que considero a mais relevante, pois, na verdade, por mais que a gente tente, não pode ter controle sobre os acontecimentos futuros, nem mesmo sobre os presentes. Na realidade, a gente só consegue ser razoavelmente feliz quando reduz significativamente o nível de expectativas, pois a materialização destas também se insere, obviamente, neste impalpável campo das incertezas. Ou seja, aquilo que desejamos pode ou não acontecer.

O ser humano abriga a ilusão de que “querer é poder”. É claro que a dedicação e o esforço contam muito, mas o elemento imponderável está em todas as equações. A insistência e a perseverança podem aumentar as possibilidades de modo a que estas se tornem probabilidades. Mas ainda assim não são certeza. E nunca serão.

No dia de hoje, na véspera desta nova viagem, não estou ansiosa. Ao contrário, estou totalmente receptiva a todas as ocorrências que se apresentarem à minha frente ao longo dos próximos dias. E não digo isso à toa, mas, sim, porque tenho insistido comigo mesma neste ponto: o de aproveitar as oportunidades tal qual se manifestam.

No íntimo do meu ser, talvez eu desejasse, neste momento, estar vivendo algo diferente, fazendo algo diferente, usando um formato diferente… Mas a vida (ah… sempre a vida) desejou que fosse assim e cabe a mim obedecer estas tais contingências e aceitar as exigências destinadas à minha existência.

E, desta maneira, vou traçando meu próprio caminho, buscando tirar o melhor de cada experiência e de cada situação para tornar-me, igualmente, um ser humano também melhor.

Estou indo sozinha e meus amigos seguem seus próprios destinos, alguns de viagem, outros não. Mas o bom de tudo é que, quando compreendemos algumas regras da vida, sabemos que, na realidade, estamos todos juntos na mesma embarcação, cada um à sua maneira, mas sempre com o mesmo objetivo: o de sentir a paz e a serenidade que, se pensarmos bem, podem ser encontradas em qualquer lugar. Aqui ou em viagem, elas habitam, há muito tempo, dentro de nós. E que elas possam desabrochar. Até breve!

(Texto originariamente publicado em 27/01/12. Foto: Favim).

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LUBRIFICANDO AS ASAS

Toda vez que minha vida emperra, fico pensando que ali, bem naquele ponto, há algo para aprender. Mas dificilmente descubro o que é. Aliás, para ser justa comigo mesmo, acabo descobrindo, sim. Mas, na maioria das vezes, tanto tempo depois do acontecido, que chego a ficar triste pelo fato de que, à época, eu tenha sofrido à toa. Aprender parece ser a missão básica da humanidade. Sem o aprendizado, um ser humano não pode sequer sobreviver. Ele tem que saber o mínimo nem que seja apenas para permanecer em pé sobre a face da Terra.

Muitas pessoas viram as costas ao conhecimento, ao argumento de que este não resolve as suas vidas. Mas, se isso pode ser correto, não menos verdadeiro é o fato de que também não será a ignorância que solucionará os seus problemas. Seja como for, gosto é gosto e cada um deve viver de acordo com suas próprias convicções. E, de todo modo, diferentemente do conhecimento, a verdadeira sabedoria parece mesmo estar sempre dentro de nós.

Existem muitas formas de aprender e muitas vezes exige-se o esforço de nossa parte. Felizmente, há, também, maneiras bastante prazerosas de agregar conhecimento. Uma delas é viajar, pois, se para aprender algo você não precisa viajar, eu diria que é impossível viajar sem aprender.

Como eu mencionei nas primeiras postagens do blog, hoje em dia você encontra quase tudo em termos de viagens, o que certamente aumenta, em muito, as razões para bater suas asas.

Existem agências especializadas em viagens de conhecimento. E elas são absolutamente fantásticas. Normalmente, elas divulgam um calendário já idealizado para que os grupos possam se formar. E estes grupos sempre são liderados por um “expert” no assunto. Aqui no Brasil, temos a Latitudes, que faz um trabalho primoroso. Nunca viajei com eles, mas conheço pessoalmente alguns dos especialistas. Só a visita ao “site” já vale muito. Há roteiros e fotos incríveis. A americana Wander Tours é também excepcional. Além de destinos fantásticos, a agência criou um segmento chamado Women-Only, com programas adequados ao gosto feminino.

Além disso, se você não tem companhia para viajar, é extremamente interessante buscar este tipo de viagem, em que sempre há outras mulheres na mesma situação que você.

Querida viajante, não é possível saber o que será de nós mesmas no dia de amanhã, nem mesmo com todo o conhecimento do mundo. Nosso futuro é sempre incerto e desconhecido. Há uma verdade, porém, de caráter absoluto e da qual ninguém pode fugir: sem preparar-se e sem treinar as suas asas, nem mesmo um pássaro pode voar. Mãos à obra.

(Texto originariamente publicado em 11/02/12. Foto: Pinterest)

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