Mulheres com Asas

Bons Voos.

Tag: paixão

O DIA EM QUE EU MORDI A MAÇÃ

O namoro ia bem, obrigada. Mas tão bem mesmo que, em dez dias, embarcaríamos juntos a Nova Iorque, onde supostamente seriam compradas as alianças de noivado. Foi quando, então, numa segunda-feira, por volta das 7 horas da manhã, e embasada em suspeitas justificadas, fui espiar um torpedo que acabara de entrar em seu celular, enquanto ele preparava o café. Ele argumentou, ao depois, que eu poderia ter feito tudo, ou pelo menos quase tudo, mas que bisbilhotar nas suas coisas era absolutamente indesculpável e estava fora de questão. E foi assim que acabei sendo expulsa do paraíso. Pretexto ou não, pecado ou não, fui banida para sempre da sua vida e, ali mesmo, encerrou-se uma fase da minha.

Nossa existência é, felizmente, uma sucessão de capítulos até o dia em que o livro acaba de vez. E, como diz o velho ditado, quando uma porta se fecha, outras se abrem. Naquele caso, não havia o que fazer e, mesmo muito aborrecida, segui sozinha para o tão sonhado destino planejado a dois. Mas a viagem, apesar dos “apesares”, como leio por aí, foi boa até demais. Em primeiro lugar, a suíte gigantesca do Waldorf Astoria é capaz de, efetivamente, melhorar o humor de qualquer mortal. Aliás, não me importei nem um pouco de tomar sozinha o champagne que ele havia encomendado quando fez a reserva. Além disso, verdade seja dita, você só não se diverte em Nova Iorque se estiver em um estágio muitíssimo avançado de profunda depressão. E isto é ainda mais verdadeiro se você conhecer o mapa das boas compras.

Sem muita vontade de sair de Manhattan, dediquei-me, com afinco, a escolher, ali mesmo, os melhores endereços para comprar bem e gastar pouco. E agora, com alegria, divido com vocês estas informações. A Macy’s é o óbvio do óbvio, mas sempre vale a visita. Além dos descontos-relâmpago que acontecem em horários variados, você sempre tem garantidos os 11% de desconto com o cupom que você retira no Visitor’s Center. Outra loja que sempre vale a pena visitar é a Century 21, onde os descontos de marcas consagradas podem chegar a 75%. Outra loja que você tem que conhecer é a Burlington Coat Factory, que tem todo tipo de casacos e sobretudos que você imaginar, de marcas desconhecidas a muito famosas. Por fim, uma das minhas lojas queridinhas é a  Filene’s Basement, que, desde novembro de 2011, está em uma espécie de processo de falência. Neste mês, as lojas estão fechadas, mas anote o nome para a eventualidade de elas reabrirem. Por fim, se, entre uma caminhada e outra, você desejar um bom café mas já estiver saturada do Starbucks, vá se deliciar em uma das lojas da Pret a Manger e coma por mim um Almond Croissant.

Amiga, é dispensável dizer que eu não quis nem passar perto da Tiffany, onde as alianças seriam adquiridas, como combinado. Em compensação, passeei por tantos lugares e fiz tantas outras coisas variadas que mal tive tempo de reparar como a vida é mesmo engraçada: mordi a maçã proibida e fui parar sozinha na Big Apple.

(Texto originariamente publicado em 10/02/12. Foto: 7-Themes).

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A ONDA E A ALMA

Esta história é verdadeira e aconteceu muitos e muitos anos atrás. Começou num inocente café numa terça-feira qualquer de um longínquo mês de abril. Ainda era cedo, antes das dez horas da manhã, quando minha alma mergulhou no oceano azul do par de olhos mais belos e sinceros que eu conhecera em minha vida. Eu nunca havia sentido tal imensidão. Uma onda me invadiu e me arrebatou. E durante os três anos seguintes eu tive certeza de que aquela onda se chamava amor.

Não, não é isso que você está pensando. É muito mais. Esse amor era cristalino como a água e profundo como o mar. Era assustador e cálido, forte e suave. Suas ondulações eram capazes de me transportar para lugares nunca antes visitados e de me elevar acima da linha do horizonte.

Na maré cheia, ele era vigoroso, produtivo, potente. Na maré vazante, ele era triste, dilacerante, fugidio.

Mas ele sempre esteve ali, nunca me abandonou. Havia adversidades, dificuldades, impossibilidades. Mas amor assim é leal, persistente, eterno. Não morre jamais.

Neste tipo de amor, o corpo pode ser casto porque é a alma que se desnuda. Ele acontece quando você pode ser você mesma e quando sua mente e seu coração simplesmente sabem e compreendem.

O dono dos olhos azuis costumava dizer que amava a minha forma de ser e de pensar. E é fácil entender o por quê. Nós conversávamos sem falar, nos amávamos sem tocar e sonhávamos sem dormir.

Este amor era uma tela branca à frente de um artista. Ali era possível projetar todos os nossos desejos e planos, dos possíveis aos imaginários. A escolha das tintas, das cores, dos pincéis e das paisagens era somente nossa, o que fez deste amor a obra-prima dos seus criadores.

Este amor era cheio de sons, de risos, de cordas e de gaitas escocesas. Músicas que ecoarão por toda a eternidade.

É certo que houve desencontros, erros e lágrimas. Como sempre acontece. Mas isso não tem a menor importância, porque o que hoje se recorda são a paixão, as certezas e as emoções incomparáveis.

Dizem que a parte mais erótica das pessoas é a sua alma. Faz sentido. O verdadeiro valor de uma pessoa está na capacidade de ser vivo, inteiro e autêntico. E nada pode ser mais atraente do que isso. Sherazade, de acordo com os manuscritos das Mil e Uma Noites, em um fragmento do século IX, livrou-se da morte e salvou sua alma pela habilidade de contar histórias, noite após noite. Mesmo aprisionada, ela não se entregou ao rei e ele a libertou.

Muitos anos se passaram. Muitas experiências vieram. Mais de uma vez, os oceanos foram cruzados, para o leste e para o oeste, e nunca mais o vi. Mas sei que ele está bem e é isso o que me importa.

As ondas da vida podem, muitas vezes, te carregar de um lado para o outro. Faz parte da nossa existência terrena, essa sim, frágil e fugaz.

Mas o amor, ah, o amor! Essa espécie de amor não morre simplesmente. Pode transformar-se, amadurecer, mudar de rosto, de corpo, de lugar e de condição. Mas a sua essência é perene como é a alma humana. E é profunda e misteriosa como é o oceano.

Felizes aqueles que, ao menos uma vez em suas vidas, possam se deixar levar pelas correntes e pelos ventos, apenas fechando os seus olhos e entregando-se. É possível que, ao menos por uma fração de segundo, você possa se sentir flutuando e tocando a face da eternidade.

(Texto originariamente publicado em 01/11/12. Foto: HD4Desktop).

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NAS ASAS DA PAIXÃO

Se existe um assunto acertado em termos de satisfazer a curiosidade feminina, este tema é a paixão. Acho normal. As mulheres são seres apaixonados em sua essência e falar sobre a paixão é falar sobre algo que lhes é muito familiar e muito antigo. É claro que cada uma de nós tem a sua própria história. Mas é certo também que a primeira paixão nasceu muito cedo, quando éramos apenas meninas. Naquela época, a paixão que sentíamos dentro de nós provocava a mesma sensação que correr em meio a bosques floridos e caçar borboletas. Acreditávamos piamente que a paixão era capaz de transportar os nossos corpos franzinos e as nossas almas espevitadas para muito além do horizonte. O simples ato de observar o ser amado, mesmo que você estivesse escondida atrás de uma árvore a milhares de quilômetros de distância, era como respirar o mais inebriante perfume de sândalo. E um mero olhar do seu principezinho já era suficiente para você se sentir flutuando em um tapete mágico a milhas e milhas de altitude. E, o melhor: sem nunca sentir vertigens ou medo de cair.

Então você virou moça. Neste momento, apenas contemplar o ser amado já não era mais suficiente. Foi quando surgiram, então, as suas primeiras interações, ainda muito desajeitadas e tímidas. O rubor na face era natural. Nenhuma de nós precisava de maquiagem. O que precisávamos, isso sim, era ensaiar palavras na frente do espelho e descobrir em nós mesmas uma coragem assustadoramente poderosa para estabelecer alguma espécie de contato. Como a grande maioria das primeiras paixões, a minha também foi platônica e não correspondida. Agora eu sentia, pela primeira vez, a flecha atravessando o meu coração. Eu nunca havia sentido uma dor assim. Meu grande amigo era meu diário, cuja capa cor-de-rosa era fechada com uma chavezinha dourada. E era para ele que eu dirigia as minhas preces, fazia as minhas promessas e contava os meus progressos na arte da sedução. Meu diário nunca me recriminou. Calado, aceitou tudo aquilo que eu impus a ele com minha letra perfeita e também tudo aquilo que eu impus a mim.

Então virei mulher. Costumo ser muito franca e aberta com relação aos meus sentimentos e à minha intimidade. Sinceramente, não tenho problema algum em falar sobre a minha vida. Mas existe uma única coisa que às vezes ainda me faz corar. Incomoda-me um pouco lembrar de todas as coisas insanas e sem sentido que, ao longo da minha existência, eu fiz em nome do que eu achava que era amor. Fosse amor de verdade, não teria sido assim. Os atos impensados, a fragilidade, o destempero e o desequilíbrio são típicos, na verdade, de um estado de paixão. Se eu tivesse sabido antes, teria feito diferente. Mas eu estava equivocada. Para mim, tudo aquilo era amor. E se até Fernando Pessoa teria dito que “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”, quem era eu para discutir?

As paixões não fizeram estragos significativos na minha vida, mas deixaram marcas indeléveis no meu ser. Valeram a pena no momento em que existiram, mas tenho que admitir que o preço pago foi altíssimo em termos de auto-respeito, de auto-controle e de auto-estima. Nos momentos de paixão, sufoquei minha vontade de voar e, voluntariamente, amarrei pesos nos meus pés. Minhas asas se ressentiram e eu não me importei. Em parte, abri mão de mim mesma e corri o risco de que elas se atrofiassem para sempre.

Felizmente, a natureza possui uma inacreditável capacidade auto-curativa e minhas asas se recuperaram e me remeteram àquela época em que eu bebia água nas nascentes e colocava margaridas nos cabelos.  Mas tudo agora era diferente. Com o tempo, veio a consciência de que eram os meus próprios pés que me moviam e que, para voar de verdade, eu teria que exercitar as minhas asas. E comecei a tatear esse terreno, experimentando aqui e acolá as minhas novas descobertas. Demorei muito, mas muito mesmo, para ter a segurança de me elevar um pouco além. Eu sabia que um vento mais forte poderia facilmente me derrubar.

Mas eu não desisti. E, aos poucos, eu fui mudando como um pássaro migratório, que intuitivamente sabe para onde se encaminhar. Em parte, tenho saudade das piruetas, das manobras radicais e até mesmo dos pousos forçados. Mas, em parte, prefiro seguir em velocidade de cruzeiro, observando meu caminho com atenção e sabendo distinguir quem são os predadores e quem são os companheiros.

Ninguém pode dizer que não beberá da água de um determinado rio. Principalmente, se você se vir sozinha em meio a um deserto árido. Sendo assim, hoje eu prefiro abastecer os meus próprios cântaros e minimizar os meus riscos. Pode parecer covardia. Mas pode ser também que a isso se chame paz. Os voos serenos têm valido muito a pena em minha vida e têm me poupado muita energia. Certa ou errada, com razão ou sem razão, acredito que, desta forma, poderei ir ainda mais longe. E ter muitas outras histórias e finais felizes para contar.

(Texto publicado originariamente em 15/05/12. Foto: Rosie Hardy)

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