Mulheres com Asas

Bons Voos.

Tag: coragem

DE VOLTA AO CASTELO ENCANTADO

Era uma vez uma menina. Ela não era uma princesa. Ela era uma menina comum. Esta menina carregava dentro de si todos os sonhos do mundo. Nestes sonhos, a menina habitava um lindo castelo, rodeado de verdejantes jardins com fontes de águas puras e cristalinas, onde, ao longe, podia-se ouvir o som dos violinos. Passarinhos de todas as cores vinham visitá-la logo cedo em sua janela, convidando-a a correr por entre os bosques fartos e a dançar junto às borboletas azuis. A menina, então, todas as manhãs, levantava-se de sua cama cor-de-rosa, atravessava seu enorme quarto cor-de-rosa e abria as longas cortinas também cor-de-rosa para dar “bom dia” a cada um de seus pequeninos amigos. A família da menina era muito doce, meiga e generosa, mas, mesmo assim, a menina sentia-se muito só. E sentia-se assim não porque a família a negligenciasse, mas sim porque, por mais que se esforçassem, os membros desta família não conseguiam acessar e entender os sonhos desta menina. E por causa disto, então, ela aprendeu, desde muito cedo, que seus sonhos eram só seus e que eles eram capazes de fazê-la muito feliz.

A menina cresceu. Sem que percebesse o tempo passar, muitos dos seus sonhos se realizaram. É claro que ela jamais morou em um castelo. Neste ponto, portanto, nunca deixou de ser aquela menina comum. Em contrapartida, realizou outras tantas coisas, que, como num passe de mágica, quando caiu em si já havia se feito inteira como mulher.

Preencheu sua vida com tarefas, atividades, deveres e ocupações. E nem tudo foi ruim. A par de uma agenda cheia, houve também um tanto de prazer. Fizeram parte desta trajetória casamento, filho, viagens, hobbies, amigos, conquistas materiais, realizações profissionais e reconhecimento. Tudo aconteceu como tinha de acontecer.

Foi então quando, do nada, nestes estalos que simplesmente vêm à mente, a menina percebeu que não era mais uma princesa, mas, sim, que agora havia se transformado em uma mulher e que se achava coroada como a rainha de si mesma, forte, independente e realizada. Neste momento, ficou com um pouco de medo de si. Sentiu temor por tudo quanto a força e o poder podem representar porque eles são capazes de afastar as pessoas daqueles primeiros sonhos da infância, fechando definitivamente os portões daquele castelo.

Esta sensação não foi nada confortável para aquela menina, hoje mulher. Sem maiores explicações, ela passou a lembrar-se dos tempos em que era apenas uma criança e que tinha em si todos os sonhos do mundo. Agora, tudo parecia tão realizado, perfeito e concreto, e, paradoxalmente, tão distante daquele estado de desejo que somente as meninas sonhadoras sabem conhecer.

E, num piscar de olhos, olhos agora marejados, tudo o que a menina ora desejava era estar lá atrás de novo, em seu castelo encantado, esperando a hora de correr com as borboletas azuis.

A vida é engraçada. Busca-se muito e quando se alcança, a gente tem a sensação de que o desejar e que o sonhar são sentimentos mais reais do que o conseguir.

A menina viu-se prisioneira de si e do ciclo da vida, pois bem sabia que não podia caminhar para trás. E, além disso, ela teve de admitir que sequer se lembrava onde havia guardado a chave dos portões do castelo.

Foi um grande e desgastante trabalho desvencilhar-se desta armadilha. Sabia que não podia jogar tudo para o alto para viver um delírio infantil. Por outro lado, era frustrante saber que não mais podia experimentar aquelas sensações das frescas manhãs.

A menina recusou-se a permanecer naquele cativeiro. Haveria de existir uma saída para esse complicado dilema. Foi quando ela, então, decidiu escarafunchar todas as gavetas da sua existência até encontrar seu tesouro precioso. Ela sabia que se descobrisse algo que houvesse deixado para trás poderia ainda retornar a aquele castelo com a chave certa capaz de abrir seu coração. Repassou em sua mente tudo o que desejou e sonhou ao longo de sua jornada. E lembrou-se, então, que algo havia sido abandonado. Foi um sonho interrompido. Por circunstâncias da vida e antes que a cortina se fechasse, a menina deixara de dançar nas pontas de seus pés, em vestidos de tule cor-de-rosa e coroas prateadas.

Ela havia encontrado o segredo. O mistério para sua felicidade finalmente estava desvendado. Com a coragem necessária, ela poderia obter a chave daqueles portões. Preparou-se então para o grande dia em que poderia novamente calçar as suas sapatilhas de cetim. Chorou de dor e de emoção quando as luzes do palco se acenderam e depois se apagaram. O tempo havia passado mas era como se o próprio tempo não existisse. A tristeza foi-se embora. O medo acabou. Os pássaros cantaram. Os jardins floriram. As janelas e os portões finalmente se abriram. E a música, antes ouvida à distância, agora estava dentro dela para sempre e nunca mais pararia de tocar.

E a menina, então, jurou a si mesma que, enquanto vivesse, seria fiel à sua verdade e à sua essência. Jurou que cumpriria todos os seus sonhos. Jurou que nunca mais abandonaria a si. Jurou que sempre voltaria ao castelo. Jurou que desafiaria o tempo e que renasceria na própria eternidade.

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Crédito da Foto: Pinterest

 

 

 

 

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AS RAZÕES QUE NINGUÉM VÊ

Muitas pessoas ficam admiradas quando comento que viajo sozinha e consideram isto um ato de coragem da minha parte. Outras tantas, porém, olham-me um pouco intrigadas, o que me permite perceber que, nos esconderijos de suas mentes, estão investigando as razões pelas quais isso acontece. Quando noto esta inquietação, trato logo de explicar e, em questão de segundos, aquilo que parecia um mistério insondável desmistifica-se, pois, na realidade, não há segredo nenhum a ser desvendado.

Meu primeiro voo solo aconteceu em 1996, ano seguinte ao do meu divórcio, durante o período das minhas férias, que começariam logo após o Natal. Como eu pretendia ir ao Canadá, é óbvio que não encontrei nenhuma alma que se dispusesse a viajar comigo para enfrentar o frio de cerca de -30 graus Celsius. É claro que fiquei um pouco temerosa, mas fui, ao estilo sem lenço e sem documento, com um mapa na mão, muitos casacos na mala e nenhuma reserva de hotel. E ali fiquei 35 dias, período em que tive a oportunidade de aprender muitas coisas sobre a vida e sobre os seres humanos.

A primeira grande lição que tive foi a de que há pessoas generosas e solícitas no mundo. Além disso, existe uma empatia natural dos demais turistas quanto aos viajantes solitários, de modo que você só ficará completamente sozinha se for uma pessoa socialmente inviável.

Em segundo lugar, quando você começa a conversar com desconhecidos, estes tendem a remover seus filtros e máscaras, o que permite aferir que suas vidas não são necessariamente melhores do que a sua. Não existe qualquer razão, portanto, para você sentir-se inferiorizada sob nenhum aspecto.

Por fim, não sei se isso é bom ou ruim, mas a verdade é que as pessoas sempre estão ocupadas demais com suas próprias questões para se incomodarem com o fato de que você esteja viajando sozinha ou acompanhada. Isto não faz a menor diferença na vida delas.

Compreendendo, assim, estas três regrinhas de ouro, afastei qualquer sentimento de vergonha, constrangimento ou inadequação, tanto que, após esta primeira experiência, viajei sozinha dezenas de vezes, em circunstâncias muito variadas.

Para finalizar, quero deixar claro que nem sempre viajo sozinha. Evidentemente, quando possível, viajo com meus pais, com meu filho, com meus amigos e, quando estou em algum relacionamento, com meu parceiro. A diferença é que, quando não há ninguém disponível por falta de tempo, de dinheiro, de vontade ou de interesses coincidentes, sigo sozinha da mesma maneira.

Aprendi, com o tempo, a não desperdiçar aquilo que a vida oferece como possível naquele momento. Sendo assim, aproveitar a oportunidade é, talvez, uma resposta única para tantas e tantas perguntas. Sem nenhum mistério. Sem nenhum segredo.

(Texto originariamente publicado em 04/01/12. Foto: Pinterest).

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O DIA EM QUE EU MORDI A MAÇÃ

O namoro ia bem, obrigada. Mas tão bem mesmo que, em dez dias, embarcaríamos juntos a Nova Iorque, onde supostamente seriam compradas as alianças de noivado. Foi quando, então, numa segunda-feira, por volta das 7 horas da manhã, e embasada em suspeitas justificadas, fui espiar um torpedo que acabara de entrar em seu celular, enquanto ele preparava o café. Ele argumentou, ao depois, que eu poderia ter feito tudo, ou pelo menos quase tudo, mas que bisbilhotar nas suas coisas era absolutamente indesculpável e estava fora de questão. E foi assim que acabei sendo expulsa do paraíso. Pretexto ou não, pecado ou não, fui banida para sempre da sua vida e, ali mesmo, encerrou-se uma fase da minha.

Nossa existência é, felizmente, uma sucessão de capítulos até o dia em que o livro acaba de vez. E, como diz o velho ditado, quando uma porta se fecha, outras se abrem. Naquele caso, não havia o que fazer e, mesmo muito aborrecida, segui sozinha para o tão sonhado destino planejado a dois. Mas a viagem, apesar dos “apesares”, como leio por aí, foi boa até demais. Em primeiro lugar, a suíte gigantesca do Waldorf Astoria é capaz de, efetivamente, melhorar o humor de qualquer mortal. Aliás, não me importei nem um pouco de tomar sozinha o champagne que ele havia encomendado quando fez a reserva. Além disso, verdade seja dita, você só não se diverte em Nova Iorque se estiver em um estágio muitíssimo avançado de profunda depressão. E isto é ainda mais verdadeiro se você conhecer o mapa das boas compras.

Sem muita vontade de sair de Manhattan, dediquei-me, com afinco, a escolher, ali mesmo, os melhores endereços para comprar bem e gastar pouco. E agora, com alegria, divido com vocês estas informações. A Macy’s é o óbvio do óbvio, mas sempre vale a visita. Além dos descontos-relâmpago que acontecem em horários variados, você sempre tem garantidos os 11% de desconto com o cupom que você retira no Visitor’s Center. Outra loja que sempre vale a pena visitar é a Century 21, onde os descontos de marcas consagradas podem chegar a 75%. Outra loja que você tem que conhecer é a Burlington Coat Factory, que tem todo tipo de casacos e sobretudos que você imaginar, de marcas desconhecidas a muito famosas. Por fim, uma das minhas lojas queridinhas é a  Filene’s Basement, que, desde novembro de 2011, está em uma espécie de processo de falência. Neste mês, as lojas estão fechadas, mas anote o nome para a eventualidade de elas reabrirem. Por fim, se, entre uma caminhada e outra, você desejar um bom café mas já estiver saturada do Starbucks, vá se deliciar em uma das lojas da Pret a Manger e coma por mim um Almond Croissant.

Amiga, é dispensável dizer que eu não quis nem passar perto da Tiffany, onde as alianças seriam adquiridas, como combinado. Em compensação, passeei por tantos lugares e fiz tantas outras coisas variadas que mal tive tempo de reparar como a vida é mesmo engraçada: mordi a maçã proibida e fui parar sozinha na Big Apple.

(Texto originariamente publicado em 10/02/12. Foto: 7-Themes).

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O QUE EU APRENDI ESSE ANO

O ano não acabou, é verdade. Mas faltam poucos dias. Se não para o fim do mundo, certamente para o final do ano propriamente dito. E é hora de começar a fazer o balanço dos meses, das semanas, dos dias, das horas, dos minutos, dos segundos.

Aprendi muito em cada uma destas frações existenciais do tempo.

A passagem dos meses me mostrou que o fortalecimento pode ser razoavelmente estável. Que nem sempre precisamos ter recaídas de tristeza e de desesperança. Que é possível navegar em águas calmas até o outro lado do oceano.

O transcurso das semanas me ensinou que é viável, sim, planejar e organizar-se. E, acima de tudo, realizar projetos em relativamente curtos períodos de tempo, de forma segura e responsável.

O transcorrer dos dias revelou que em pouquíssimo tempo se constroem amizades e sonhos. Não é necessário muito tempo para estabelecer laços e vislumbrar a concretização de um ideal.

O tique-taque das horas evidenciou que num breve piscar de olhos coisas impensáveis podem acontecer e mudar. Não temos controle sobre quase nada em nossas vidas. E, paradoxalmente, podemos ter integral controle sobre os nossos pensamentos.

O pulso dos minutos contados me contou sobre a possibilidade de cantar a alegria em momentos efêmeros e significativos. Num piscar de olhos, decide-se, avança-se, constrói-se. O relógio não para nunca, nem o físico, nem o biológico, nem o mental, nem o espiritual. O amor não precisa de quase nada para se manifestar. E nem também qualquer outro sentimento. Apreender a vida, reter a emoção, respirar o instante e ouvir o coração são ações que não se condicionam a nada que não seja você mesmo.

E os segundos… Ah! os segundos… São miraculosos, mágicos e reticentes. Explodem dentro de nós como faísca. E ainda assim contêm toda a eternidade. Em um segundo, é possível compreender o significado daquilo que demoramos vidas inteiras para perceber com clareza.

Os segundos são a nossa existência na forma de sua potencialidade máxima.

A dor que dói agora é sempre a mais vigorosa. O amor que se sente agora é sempre o mais poderoso.

Porque é apenas no agora que a mudança se manifesta e que a alma se transforma. O antes e o depois têm pouquíssima importância, pois é sempre no agora que você se emociona, vibra, acredita, sente, suporta, chora, sorri, sofre, recomeça.

É neste exato segundo que você compreende o resultado do ontem, do anteontem e de qualquer  momento do seu passado. E é neste exato segundo que se forma o amanhã, o depois de amanhã e qualquer partícula de um futuro seu.

Você acabou de envelhecer um átimo. E tudo o mais agora já é lembrança, memória, nostalgia. Ou apenas uma visão enevoada e incerta do próximo amanhecer. Porque somos seres livres mas somos também prisioneiros do ciclo interminável de uma inevitável sequência de agoras.

(Texto originariamente publicado em 18/12/12. Foto: Welcome Qatar).

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A LEVEZA E O PESO DO SER

Existem duas coisas que eu tenho o prazer de nunca haver possuído: televisão no quarto e balança no banheiro. Nem mesmo na década de oitenta, quando todos os jovens enlouqueciam para ter uma televisão só sua e um vídeo-cassete de última geração, senti vontade de ter uma só para mim. Meu irmão, não. Sempre adepto da tecnologia, logo conseguiu com meus pais uma televisão somente para ele e um protótipo do que viria a ser hoje um rudimentar computador de uso pessoal. Mas minha opção não tem nada a ver com a falta de uma veia consumista. Ao contrário, sou tão seletiva que cada ambiente da casa tem, para mim, que ostentar apenas sua específica função. Quarto é só para dormir. Por isso mesmo ele se chama dormitório. E a televisão merece uma sala só para ela. Esta é a dinâmica da minha casa. E então, quando vou para os meus aposentos íntimos todas as noites, não levo comigo as lágrimas dos filmes, as risadas das comédias e a violência dos noticiários. Tudo fica lá fora e, assim, consigo ter noites muito mais leves e tranquilas, sem o peso das emoções exteriores.

Já a questão da balança é muito diferente. Nunca concebi que eu pudesse manter um instrumento dentro de casa capaz de me subjugar. Não consigo me imaginar aferindo meu peso corporal uma ou duas vezes ao dia apenas para me torturar. Porque, verdade seja dita, você não precisa da balança para saber a quantas anda a sua condição. Para isso, basta uma calça jeans, que, indubitavelmente, possui a necessária precisão científica capaz de aferir o acréscimo de um único grama.

Fala-se muito em leveza da alma e em leveza do corpo. Mas não são eles parâmetros absolutos para medir o grau da sua felicidade. Principalmente se não andarem juntos. Porque de nada adianta a leveza do corpo se a sua alma é pesada e carrega consigo toneladas de mágoa e de rancores. E também de nada vale a leveza da alma se o seu corpo acumular resíduos tóxicos de alimentos, bebidas, cigarros, medicamentos ou qualquer outra droga, lícita ou não. De igual maneira, você será incapaz de voar.

Mas para tudo na vida, exceto para a morte (a morte pertence à vida?), há uma solução, que é o lento caminhar. Ele funciona sempre, para as questões do corpo e para as questões da alma. Funciona para o corpo porque, paulatinamente, põe em ritmo o seu metabolismo e acelera a sua queima calórica. Qualquer mulher sabe disso. E funciona para a alma porque somente com a perseverança e com o passar do tempo é possível livrar-se de certos pesos inúteis, como a culpa, o ódio, a baixa auto-estima e a falta de perdão.

Como em qualquer dieta, os resultados imediatos não são definitivos. Para a efetividade do processo de leveza, é preciso muita paciência e compaixão consigo própria. Nem para o corpo e nem para alma é bom você se castigar para atingir os seus objetivos. É necessário, antes de mais nada, compreender os processos. Sem a compreensão, não haverá aproveitamento positivo. Então é bom que você se informe e que se cerque de um ambiente propício. Estude a si mesma e conclua o que precisa ser mudado. Selecione melhor suas compras e evite entupir seu carrinho com deliciosas guloseimas. Selecione melhor seus amigos e evite trazer para casa os tentadores seres predatórios da sua vitalidade e da sua auto-confiança. Aproprie-se apenas daquilo que é bom, que eleva, que produz. Descarte o que é negativo, o que arrasta, o que prende e o que condena.

E siga caminhando. Quando se cansar, volte aos seus aposentos sagrados e deixe lá fora todas as dificuldades. Estique seus lençóis mais bonitos, afofe seu travesseiro, feche a cortina e feche seus olhos. Nada ali vai te perturbar. E quando o sol da nova manhã raiar horas depois, abra a janela e abra o seu coração. Olhe-se no espelho e tente ver se alguma coisa mudou. Faça isto antes da maquiagem, quando ainda não há nada entre a gente e a gente mesma. Se algo mudou, parabéns. E se nada ainda parece ter mudado, apenas caminhe lentamente mais este dia. É assim mesmo. Demora um pouco para ver a germinação da semente.

(Texto originariamente publicado em 23/09/12). Foto: Favim).

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O AR QUE EU RESPIRO

No ano de 2010, resolvi fazer o famoso trekking até o Campo Base do Everest, seguindo trilha a partir do Nepal. Sei que esta história já até virou rotina neste Blog, mas preciso dizer que, mais uma vez, não consegui encontrar um boa alma que encarasse a aventura comigo. Aliás, quanto a esta questão, devo admitir que, após repetidas experiências, tornei-me um pouco cética quanto à possibilidade de encontrar companheiros de viagem para as minhas escolhas. E, assim, passei a buscar eu mesma o que havia de disponível no mercado. É claro que esta viagem não pode ser realizada sem uma equipe. Tratei, então, de pesquisar as agências brasileiras que organizam grupos e, depois de alguns telefonemas, acabei fechando com a Venturas e Aventuras para a saída do mês de outubro daquele ano.

Meus dois joelhos são operados e tive receio de sentir dores no percurso, pois são muitas horas de caminhada durante aproximadamente dezesseis dias na montanha. Dediquei-me, portanto, um bom trabalho de isometria que deu muitíssimo certo.  Não senti nenhum incômodo. Além disso, rapidamente comprei uma bota para amaciá-la, o que se mostrou absolutamente essencial. E, ainda antes da nossa partida, tivemos uma reunião na agência de turismo para conhecermos os demais passageiros. O grupo era formado por cerca de doze pessoas avulsas, mas não necessariamente solteiras ou descasadas. O fato é que o gosto por este tipo de viagem é algo tão específico que, ao menos ali, não foi possível reunir sequer um casal. Os casados que havia seguiram sós com seus devidos alvarás conjugais.

A viagem até Kathmandu, Capital do Nepal, é bastante longa. Seguimos via Istambul, o que foi muito bom, pois, praticamente pelo mesmo custo, um outro país acabou por ser incluído no roteiro. É certo que não deu para conhecer muita coisa. A única pernoite, porém, me deixou com muita vontade de retornar à Turquia. De lá, seguimos para Delhi, onde tivemos mais uma noite antes de seguir a Kathmandu. E, desta Capital, pegamos aquele famoso aviãozinho que aterrissa em Lukla, aos pés do Himalaia, em uma pista de pouso curtíssima e que termina em inclinação ascendente para que a aeronave consiga frear a tempo de não deslizar para fora. E é ali, em Lukla, que a aventura propriamente dita se inicia.

A rotina dos dias na montanha é mais ou menos a seguinte. Suas pernoites são feitas em lodges, que são uma espécie de hospedarias muitíssimo simples. Nos primeiros vilarejos, ainda é possível que você consiga se alojar em um quarto com banheiro. Mas, conforme você vai avançando, esta comodidade simplesmente deixa de existir e, a depender do local, você poderá encontrá-la no fundo do corredor ou do lado de fora, a alguns metros de distância. A água quente é rara também e você tem que pagar por ela para utilizar um sistema de baldes. Abro aqui um parêntese. O frio que senti na montanha foi tão intenso e os banhos se mostraram tão desconfortáveis, que transformei este hábito em gênero de quinta necessidade. Que ninguém me ouça.

As paisagens do trajeto são exuberantes e você chega a se questionar se por acaso não mudou de planeta sem perceber. E o povo é tão simpático e amoroso que você se desconecta da palavra cansaço, mesmo após muitas horas seguindo a pé montanha acima.

É claro que a viagem não é fácil e que isso não é novidade para ninguém. Mas o ponto crucial do sucesso é mesmo a resposta do seu corpo à ausência de oxigênio. Com o passar dos dias, o ar realmente começa a faltar e coisas estranhas podem acontecer no seu organismo. No meu grupo, houve pessoas que não puderam prosseguir em razão de reações orgânicas que o conhecido “mal da montanha” acabou por provocar. Não senti efeitos impactantes no meu corpo, à exceção de uma crônica dor de cabeça e de algum mal estar à noite. Mas, bem ou mal, e com a ajuda de muitos comprimidos, acabei prosseguindo e cheguei até o meu objetivo. Depois disso, confesso, senti-me esgotada para começar a descida e, junto com outros dois companheiros de jornada, rateamos o custo de um helicóptero para antecipar o retorno a Kathmandu. Boa escolha.

Obviamente, é impossível narrar em uma única postagem tudo de bom e de ruim que acontece numa longa viagem. Mas o que eu quero deixar claro é que, apesar das adversidades, a jornada valeu muito a pena. Valeu apesar do desconforto, das restrições, das dores, do cansaço, do peito arfando, do frio, da comida, de pessoas não muito legais, de alguns guias despreparados e de muitas situações inconvenientes. Afirmo e explico: quando você se encontra em situações adversas, em que sequer o ar se acha convenientemente disponível, não há tempo para elocubrações. Os subjetivismos, as ponderações, as mágoas, as diferenças, a vaidade, a volúpia e toda a gama dos imponderáveis sentimentos humanos simplesmente desaparecem como em um passe de mágica. Na verdade, sob tais condições, tudo o que você deseja é viver e sobreviver. É incrível como uma mera viagem pode mudar a perspectiva de toda uma vida. No meu caso, esta percepção foi imediata e jurei a mim mesma parar de reclamar por qualquer bobagem ou insatisfação.

E embora eu não deva me intrometer na vida alheia, quando vejo alguém protestando e sofrendo inutilmente, minha vontade é de simplesmente dizer à pessoa: “você reparou que você está respirando?”. É quase o que basta para que possamos permanecer de pé no planeta.

Sendo assim, quando você se sentir contrariada, respire, inspire, expire e relaxe. E você perceberá, então, que a salvação e a cura da sua alma podem, miraculosamente, residir no plano do próprio invisível. E, o melhor: sem necessidade de fé, crença ou religião.

(Texto originariamente publicado em 25/05/12. Foto: Pinterest)

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NA TERRA DAS FADAS

Esta semana ganhei um presente muito especial do meu pai. Um livrinho sobre mitologia. Na verdade, ele é uma espécie de dicionário em que você pode encontrar, pelo nome, os principais personagens das maravilhosas histórias lendárias que se desenvolveram no berço da cultura romana, grega, egípcia, nórdica e celta. Imediatamente fui em busca de meu próprio nome e pude reviver, com emoção, aquilo que eu já sabia mas que se encontrava adormecido em mim há muitos e muitos anos: os fantásticos relatos sobre Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda.

De acordo com histórias medievais e romances contados através dos séculos, Arthur teria comandado, juntamente com seus fiéis cavaleiros, a defesa contra os invasores saxões chegados à Grã-Bretanha no início do século VI. E ele teria, também, sido aconselhado por Merlin, um sábio mago que, segundo tais relatos, conhecia todos os segredos do céu e da terra, da vida e da morte, dos homens e dos deuses. E muito embora tenha sido atribuída a Merlin a fama de feiticeiro, contam os entendidos que ele, na verdade, pretendia apenas assegurar a paz entre os povos. As histórias arturianas são tão ricas em detalhes que muitos acreditam que se trata de relatos absolutamente verídicos.

Dizem também estas histórias que o famoso círculo de pedras britânico teria sido construído por Merlin, o qual teria providenciado, no ano 300 A.C, o seu transporte, pelo ar, desde o País de Gales. Mas se Merlin era dotado de poderes especiais, tinha também seu lado humano. E foi assim que ele teria se apaixonado por Viviane, também conhecida como “A Senhora do Lago”. E tamanha teria sido tal paixão que Merlin, cego de encantamento, teria entregue à sua amada todos os segredos que ele, até então, guardava com absoluta exclusividade. Viviane era filha de Diana, a deusa dos bosques, e irmã mais velha de Igraine, mãe de Arthur. E foi nesta condição de tia que Viviane teria concedido a Arthur a famosa Excalibur. Este importante ato teria acontecido em Avalon, sagrada ilha bretã regida por sacerdotisas. A famosa Fada Morgana era meia-irmã de Arthur e teria sido treinada por Viviane para sucedê-la em sua missão de assegurar a paz e a sabedoria, tornando-se a nova líder desta terra insular.

Ao que consta, estas narrativas, embora não verdadeiras, guardam estreita relação com as antigas cultura e religião celtas. Historicamente, a expressão “celta” é a designação dada a um conjunto de povos organizados em múltiplas tribos pertencentes à família linguística indo-européia e que se espalhou pela maior parte do oeste da Europa a partir do segundo milênio antes de Cristo. Tal etnia, assim definida como os povos que falavam o idioma celta, transmitiu a sua história através das tradições e do folclore. Pouco se escreveu a respeito e o que se sabe destes grupos deveu-se à mera perpetuação dos costumes.

Os celtas exaltavam a força da Terra e a natureza era considerada a expressão máxima da Deusa-Mãe. Embora a sociedade não fosse rigorosamente matriarcal, as mulheres possuíam grande importância em sua dinâmica e funcionamento, na medida em que a Divindade Superior era um ente feminino. E tanto as forças do Universo regiam suas crenças que os celtas não construíam templos. Suas reverências aconteciam nos bosques para propiciar a adoração aos vários elementos da natureza. Infelizmente, a religião celta perdeu-se no tempo. As reminiscências que ficaram resumem-se basicamente à wicca e suas derivações, as quais ostentam conteúdo pagão e incluem rituais de bruxaria. Seus princípios originais e sua essência primeira não permaneceram.

Em pouco mais de um mês, visitarei a Grã-Bretanha e se eu tiver tempo, visitarei alguns locais importantes da história celta. Pretendo ir a Stonehenge e contemplar de perto esta misteriosa obra. Pretendo comprar alguns livros. Pretendo conversar com as pessoas locais para compreender um pouco melhor estes povos. Com sorte, conseguirei.

É claro que sei que todas estas histórias fantásticas são lendas. Mas, mesmo assim, gosto de pensar que a sacerdotisa-maior de Avalon se chamava Viviane e que foi ela quem, tal como uma fada, entregou a espada mágica para seu sobrinho Arthur. Gosto também de imaginar as aventuras vividas por Merlin e sua amada quando teriam percorrido toda a Europa no dorso de um cavalo. E gosto de reproduzir em minha mente como seriam as visitas às florestas para homenagear a mãe-natureza.

As lendas são maravilhosas e nos fazem sonhar. São estas histórias que fazem a nossa imaginação funcionar e que giram a engrenagem do mundo.  Estas narrativas resgatam a doçura dos antigos tempos e a força de um ser humano impulsionado pela honra e pela coragem. Heróis e princesas fazem falta nos dias de hoje. E por isso mesmo os Contos de Fadas são tão interessantes e fascinantes: eles nos fazem acreditar na existência de um mundo melhor, em que a paz possa reinar.

E, pensando agora, talvez seja a esta a razão pela qual estes relatos místicos ainda existem de forma a sobreviver à própria realidade.

(Texto originariamente publicado em 08/05/12. Foto: Pinterest).

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AS MARCAS DO CORPO E DA ALMA

Em uma sexta-feita ensolarada do último mês de fevereiro, decidi fazer um passeio de barco na maravilhosa praia de Waikiki, em Honolulu, Capital do Havaí. O catamarã escolhido se chama Mana Kai e costuma ficar ancorado bem no meio da praia, exatamente em frente ao hotel em que eu estava hospedada, o Aston Waikiki Beachside. O passeio dura cerca de uma hora e por meros US$20 você tem uma excelente visão de toda a costa.

Subi na pequena embarcação e ao meu lado sentou-se um americano de meia-idade que se dizia amigo do dono. Como o proprietário do barco não se achava a bordo, não pude aferir a veracidade desta informação, a qual, honestamente, era completamente irrelevante. Cerca de dez minutos depois, o barquinho saiu e comecei a ver, à distância, os contornos urbanos e naturais daquela ilha tão especial, verdadeira pérola flutuando sobre o Oceano Pacífico.

Em um dado momento, o tal americano me perguntou sobre uma cicatriz vertical nas minhas costas, ao que, sem qualquer problema, expliquei a ele que havia me submetido a uma cirurgia no mês de maio do ano passado para a retirada de uma hérnia extrusa. Ele reparou também que eu tinha cicatrizes nos meus dois joelhos. Contei a ele, então, que tive que fazer uma correção cirúrgica na rótula esquerda e que havia retirado o menisco do joelho direito devido a uma lesão por sobrecarga de esportes.

Costumo ter muita paciência e tolerância com as pessoas e, embora tenha achado de péssimo gosto a piada do americano, não deixei de aproveitar o momento e sentir a brisa fresca no meu rosto. O americano havia me chamado de Mrs. Frankenstein e comentado o fato com os outros passageiros.

Fiquei pensando, então, naquelas minhas cicatrizes pelas quais tenho muito amor e respeito. E cheguei até a achar engraçado que eu tivesse merecido o deselegante apelido mesmo sem que ele tenha contabilizado as outras marcas do meu corpo, pois, além daquelas três, tenho ainda a cicatriz da cesariana e de uma mamoplastia que fiz aos dezoito anos para a redução dos meus seios.

As cicatrizes do meu corpo contam a história da minha vida e, para mim, são muito belas. Cada uma delas representa um importante acontecimento e todas elas podem ser consideradas como marcos de mudanças sem as quais eu não teria crescido e me tornado a pessoa que hoje eu sou. Sinceramente, não compreendo como uma pessoa pode se envergonhar dos desenhos que narram a sua própria existência.

E assim também são as cicatrizes da alma. Elas fazem a narrativa do seu desenvolvimento como ser humano. As quedas, derrotas, insucessos e fracassos deixam vestígios indeléveis que jamais serão apagados, já que o passado ninguém pode mudar. Mas no presente eles são indolores e inofensivos. E por isso mesmo estas marcas são tão maravilhosas e ali devem permanecer.

As feridas do corpo e da alma doem, latejam, cortam, ardem, sufocam, queimam e merecem ser cuidadas. Já as cicatrizes não provocam mais nenhuma sensação de desconforto. São apenas os traçados da sua própria jornada.

Amo as minhas cicatrizes. As do corpo e as da alma. Quando penso nelas, posso me recordar, sem sofrimento ou vergonha, de tudo o que aconteceu e de como as intervenções em cada qual das lesões foram bem sucedidas. Nunca pensei em corrigi-las ou escondê-las. Ao contrário, tenho orgulho delas e dos episódios relevantes que elas ainda contam.

A navegação seguiu como prevista e, ao desembarcar segura nas brancas areias da praia, tive a sensação de que durante o passeio aprendi mais uma importante lição. Nossas vidas deixam rastros visíveis que podem incomodar. Por outro lado, eles sinalizam também qual o trajeto percorrido até aqui e como nos saímos até então. Podemos, então, desta maneira, saber se estamos no caminho certo rumo ao próximo  porto ou se ainda há algo, lá atrás, que precisa de cuidado e atenção.

E agora você já sabe. Quando as suas feridas finalmente viram cicatrizes você torna-se vitoriosa de si mesma e preparada para novos voos. Já não há dor. Somente lembranças. Já não há sofrimento. Apenas recordação. E então você pode seguir em frente, mais uma vez, sabendo que sempre há o risco de outros acidentes e quedas. Mas também com o conhecimento e com a convicção de que sempre há a possibilidade de satisfatória recuperação.

(Texto originariamente publicado em 04/05/12. Foto: Favim)

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LIBERDADE EXISTE?

Para quem não sabe, mantenho no Facebook uma página oficial e um grupo de discussão, ambos homônimos deste Blog. Tem sido uma experiência muito amorosa e enriquecedora dividir o afeto e a amizade com muitas Mulheres Com Asas, que, ali, têm a possibilidade de compartilhar os seus sentimentos e as suas vivências. Como já comentei anteriormente, este Blog nasceu da vontade de contar a outras mulheres como tem sido viajar sozinha há mais de quinze anos, para destinos muito variados. E, de uma certa forma, ele tem alcançado a sua missão, pois muitas mulheres me escrevem para narrar que tomaram a decisão de empreenderem seu primeiro voo solo depois de conhecerem um pouco mais a dinâmica desta  espécie de jornada.

Curiosamente, alguns homens também me escrevem e participam ativamente da página oficial e do grupo, o que, na realidade, revela-se alentador. Para as céticas de plantão, informo que pude apurar que existem, sim, muitos homens sensíveis, compreensivos e que se interessam pela alma feminina. Há uma luz no fim do túnel.

No dia de hoje, um dos leitores do sexo masculino e que não conheço pessoalmente, fez duas postagens no mural do grupo, afirmando, categoricamente, que não existe independência e que a liberdade é uma ilusão. Confesso que, à primeira vista, os comentários me pareceram um pouco inadequados para o conteúdo da página. Lembrando-me, porém, que estou numa empreitada no sentido de compreender melhor as atitudes e pensamentos humanos, recuei dois passos em meu julgamento condenatório e achei melhor repensar, por mim mesma, as colocações daquele leitor. E passei a me perguntar, então, se a liberdade existe mesmo ou se me encontro vivendo em um universo paralelo e totalmente dissociado da realidade.

Não me filio a nenhuma linha religiosa específica. Porém, devo admitir que, em grande parte, a filosofia oriental atende aos meus mais legítimos anseios de ter respondidas aquelas perguntas primordiais que formulamos desde o dia em que começamos a raciocinar.

Sendo assim, é claro que entendo perfeitamente que o universo, dentro dos limites de grandeza que podemos vislumbrar, é uma gigantesca teia de interações, quer percebamos ou não. Até o nosso piscar de olhos provoca imperceptíveis movimentos na atmosfera, os quais, reverberando, produzem reflexos concatenados a interferirem na dinâmica atômica de todo o planeta. E, sob esta ótica, é possível mesmo afirmar-se sobre a interdependência de todos seres.

Liberdade é outra coisa. Embora estejamos associados e interligados a tudo o que existe de material e imaterial, há algo dentro de nós que parece ser exclusivo. Dependendo da sua crença, filosofia ou religião,  você poderá chamar essa essência de alma ou de espírito. Até mesmo se for ateia, há de concordar que suas ondas cerebrais atuam numa frequência diferenciada, capaz de tornar você um ser humano único.

E é justamente o reconhecimento desta individualidade que permite aos seres humanos sentirem-se livres,  haja vista que, neste estágio de consciência, você não se interessa em imitar alguém ou ser outra pessoa que não você mesma. Até porque é impossível emular as sutilezas da mente humana.

E é por isso que eu defendo, sim, a ideia de que a liberdade existe e que não está atrelada a nenhuma condição, tal seja o seu estado civil, origem, raça, idade, aparência ou capacidade econômica. E ela existe porque dentro de você há algo que é só seu e que é intangível a tudo o mais que possa existir. E exatamente  porque passa ao largo de todas as considerações humanas, aquela centelha elementar que ilumina o seu ser  permite que nela você inspire seus mais elevados sentimentos, como alguém que acende um fósforo na chama de uma vela.

E se você quiser reformular sua linha de raciocínio, pergunte a si mesma por que a liberdade não haveria de existir se dentro de você há um universo inteiramente seu.

Não sou dona da verdade e nem sei se ela tem dono. Mas tenho, para mim, que o expoente máximo da liberdade consiste em sentir e agir de maneira coerente com os contornos do seu Jardim do Eden, que não está sujeito à avaliação de mais ninguém. Ali, você faz o que deseja, arruma e planta como quiser, pinta, borda, dança, corre, voa, escreve, canta, encanta-se e sacia sua sede em fontes cristalinas. Chora e ri. Cai e levanta. E isso não é da conta de ninguém.

Não desrespeito a incredulidade e apenas lamento que não tenho como provar que a liberdade realmente existe. E sei que ela existe porque a vejo dentro de mim. Acredito naquilo que quero acreditar. E isso também é liberdade.

E se alguém ainda duvida e quer pelo menos um pequeno indício de que ela é real, lembre-se que mesmo sem o seu corpo físico você ainda é você. E lembre-se também que até um prisioneiro é capaz de sonhar e de contar as estrelas do céu.

(Texto originariamente publicado em 25/04/12. Foto Barefoot Blonde)

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LUBRIFICANDO AS ASAS

Toda vez que minha vida emperra, fico pensando que ali, bem naquele ponto, há algo para aprender. Mas dificilmente descubro o que é. Aliás, para ser justa comigo mesmo, acabo descobrindo, sim. Mas, na maioria das vezes, tanto tempo depois do acontecido, que chego a ficar triste pelo fato de que, à época, eu tenha sofrido à toa. Aprender parece ser a missão básica da humanidade. Sem o aprendizado, um ser humano não pode sequer sobreviver. Ele tem que saber o mínimo nem que seja apenas para permanecer em pé sobre a face da Terra.

Muitas pessoas viram as costas ao conhecimento, ao argumento de que este não resolve as suas vidas. Mas, se isso pode ser correto, não menos verdadeiro é o fato de que também não será a ignorância que solucionará os seus problemas. Seja como for, gosto é gosto e cada um deve viver de acordo com suas próprias convicções. E, de todo modo, diferentemente do conhecimento, a verdadeira sabedoria parece mesmo estar sempre dentro de nós.

Existem muitas formas de aprender e muitas vezes exige-se o esforço de nossa parte. Felizmente, há, também, maneiras bastante prazerosas de agregar conhecimento. Uma delas é viajar, pois, se para aprender algo você não precisa viajar, eu diria que é impossível viajar sem aprender.

Como eu mencionei nas primeiras postagens do blog, hoje em dia você encontra quase tudo em termos de viagens, o que certamente aumenta, em muito, as razões para bater suas asas.

Existem agências especializadas em viagens de conhecimento. E elas são absolutamente fantásticas. Normalmente, elas divulgam um calendário já idealizado para que os grupos possam se formar. E estes grupos sempre são liderados por um “expert” no assunto. Aqui no Brasil, temos a Latitudes, que faz um trabalho primoroso. Nunca viajei com eles, mas conheço pessoalmente alguns dos especialistas. Só a visita ao “site” já vale muito. Há roteiros e fotos incríveis. A americana Wander Tours é também excepcional. Além de destinos fantásticos, a agência criou um segmento chamado Women-Only, com programas adequados ao gosto feminino.

Além disso, se você não tem companhia para viajar, é extremamente interessante buscar este tipo de viagem, em que sempre há outras mulheres na mesma situação que você.

Querida viajante, não é possível saber o que será de nós mesmas no dia de amanhã, nem mesmo com todo o conhecimento do mundo. Nosso futuro é sempre incerto e desconhecido. Há uma verdade, porém, de caráter absoluto e da qual ninguém pode fugir: sem preparar-se e sem treinar as suas asas, nem mesmo um pássaro pode voar. Mãos à obra.

(Texto originariamente publicado em 11/02/12. Foto: Pinterest)

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