Para quem não sabe, mantenho no Facebook uma página oficial e um grupo de discussão, ambos homônimos deste Blog. Tem sido uma experiência muito amorosa e enriquecedora dividir o afeto e a amizade com muitas Mulheres Com Asas, que, ali, têm a possibilidade de compartilhar os seus sentimentos e as suas vivências. Como já comentei anteriormente, este Blog nasceu da vontade de contar a outras mulheres como tem sido viajar sozinha há mais de quinze anos, para destinos muito variados. E, de uma certa forma, ele tem alcançado a sua missão, pois muitas mulheres me escrevem para narrar que tomaram a decisão de empreenderem seu primeiro voo solo depois de conhecerem um pouco mais a dinâmica desta  espécie de jornada.

Curiosamente, alguns homens também me escrevem e participam ativamente da página oficial e do grupo, o que, na realidade, revela-se alentador. Para as céticas de plantão, informo que pude apurar que existem, sim, muitos homens sensíveis, compreensivos e que se interessam pela alma feminina. Há uma luz no fim do túnel.

No dia de hoje, um dos leitores do sexo masculino e que não conheço pessoalmente, fez duas postagens no mural do grupo, afirmando, categoricamente, que não existe independência e que a liberdade é uma ilusão. Confesso que, à primeira vista, os comentários me pareceram um pouco inadequados para o conteúdo da página. Lembrando-me, porém, que estou numa empreitada no sentido de compreender melhor as atitudes e pensamentos humanos, recuei dois passos em meu julgamento condenatório e achei melhor repensar, por mim mesma, as colocações daquele leitor. E passei a me perguntar, então, se a liberdade existe mesmo ou se me encontro vivendo em um universo paralelo e totalmente dissociado da realidade.

Não me filio a nenhuma linha religiosa específica. Porém, devo admitir que, em grande parte, a filosofia oriental atende aos meus mais legítimos anseios de ter respondidas aquelas perguntas primordiais que formulamos desde o dia em que começamos a raciocinar.

Sendo assim, é claro que entendo perfeitamente que o universo, dentro dos limites de grandeza que podemos vislumbrar, é uma gigantesca teia de interações, quer percebamos ou não. Até o nosso piscar de olhos provoca imperceptíveis movimentos na atmosfera, os quais, reverberando, produzem reflexos concatenados a interferirem na dinâmica atômica de todo o planeta. E, sob esta ótica, é possível mesmo afirmar-se sobre a interdependência de todos seres.

Liberdade é outra coisa. Embora estejamos associados e interligados a tudo o que existe de material e imaterial, há algo dentro de nós que parece ser exclusivo. Dependendo da sua crença, filosofia ou religião,  você poderá chamar essa essência de alma ou de espírito. Até mesmo se for ateia, há de concordar que suas ondas cerebrais atuam numa frequência diferenciada, capaz de tornar você um ser humano único.

E é justamente o reconhecimento desta individualidade que permite aos seres humanos sentirem-se livres,  haja vista que, neste estágio de consciência, você não se interessa em imitar alguém ou ser outra pessoa que não você mesma. Até porque é impossível emular as sutilezas da mente humana.

E é por isso que eu defendo, sim, a ideia de que a liberdade existe e que não está atrelada a nenhuma condição, tal seja o seu estado civil, origem, raça, idade, aparência ou capacidade econômica. E ela existe porque dentro de você há algo que é só seu e que é intangível a tudo o mais que possa existir. E exatamente  porque passa ao largo de todas as considerações humanas, aquela centelha elementar que ilumina o seu ser  permite que nela você inspire seus mais elevados sentimentos, como alguém que acende um fósforo na chama de uma vela.

E se você quiser reformular sua linha de raciocínio, pergunte a si mesma por que a liberdade não haveria de existir se dentro de você há um universo inteiramente seu.

Não sou dona da verdade e nem sei se ela tem dono. Mas tenho, para mim, que o expoente máximo da liberdade consiste em sentir e agir de maneira coerente com os contornos do seu Jardim do Eden, que não está sujeito à avaliação de mais ninguém. Ali, você faz o que deseja, arruma e planta como quiser, pinta, borda, dança, corre, voa, escreve, canta, encanta-se e sacia sua sede em fontes cristalinas. Chora e ri. Cai e levanta. E isso não é da conta de ninguém.

Não desrespeito a incredulidade e apenas lamento que não tenho como provar que a liberdade realmente existe. E sei que ela existe porque a vejo dentro de mim. Acredito naquilo que quero acreditar. E isso também é liberdade.

E se alguém ainda duvida e quer pelo menos um pequeno indício de que ela é real, lembre-se que mesmo sem o seu corpo físico você ainda é você. E lembre-se também que até um prisioneiro é capaz de sonhar e de contar as estrelas do céu.

(Texto originariamente publicado em 25/04/12. Foto Barefoot Blonde)

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