Mulheres com Asas

Bons Voos.

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O NINHO VAZIO

Sumi por mais de dois meses mas finalmente reapareci porque não é do meu feitio abandonar as obras começadas para deixá-las inacabadas. Na verdade, embora não justifique por completo o meu desaparecimento, há para o fato uma explicação. Ausentei-me do país para cursar um Mestrado em Direito Comparado. Caso você não saiba, algumas universidades estrangeiras disponibilizam os chamados “programas de verão”, de modo que, de maneira condensada, você conclui seus créditos sem precisar mudar-se de mala e cuia para o exterior. Após rigorosa prova de seleção, que contou com um exame escrito e com um exame oral em inglês, fui aprovada em terceiro lugar para o programa da Samford University. Meus créditos deverão ser concluídos em um total de quatro meses, o que significa dizer que, se tudo der certo, ano que vem fico fora por mais dois meses. E, após a conclusão dos créditos, terei mais três anos para a apresentação da minha tese.

A experiência neste período foi incrível. Passei um mês estudando na Cumberland School of Law, em Birmingham-AL (USA), e outro na University of Cambridge, em Cambridge (UK), o que me fez rejuvenescer cerca de vinte anos, já que, aqui, fiquei em um dormitório na própria faculdade (Sidney Sussex College – Cambridge University), exatamente como se vê nos filmes: um pequeno quarto com uma cama de solteiro, um armário para roupas, uma escrivaninha, algumas prateleiras, um frigobar antigo e uma cafeteira. Não havia televisão, nem interfone, nem qualquer comodidade  típica de hotel. Puro despojamento.

Nesses dois meses e pouco, meus pais, que moram muito perto, fizeram a gentileza de cuidar da minha correspondência, de abrir as janelas do apartamento e de aguar as minhas plantas. Não fosse isso, o ninho teria ficado completamente abandonado e vazio. Quer dizer, vazio ele ficou. Ou melhor, vazio ele sempre é, não fosse mesmo pela minha ilustre presença.

Muito superficialmente, já li algo sobre a chamada “Síndrome do Ninho Vazio”, que, em poucas palavras, pode ser entendida como o esvaziamento físico da estrutura familiar e que cede lugar a uma incontornável sensação de abandono e de solidão.

Embora eu seja divorciada há muitos anos e embora meu filho não more mais comigo há um certo tempo, particularmente não experimentei essa contundente sensação, o que, confesso, me deixou um pouco intrigada. Refletindo melhor, porém, atribuí a ausência de sofrimento ao fato de que tenho pautado minha vida em cima de uma sequência interminável de desafios pessoais, sem a concentração de minha energia em um único ponto, e o que não me desmerece, em absoluto. Acho que fui e que continuo sendo uma ótima mãe. Porém, com certa naturalidade aceito as circunstâncias cambiantes da vida, de modo que a tristeza pela partida de meu filho não se prolongou além do necessário. Aliás, considero extremamente estimulante ver, ainda que a uma certa distância, os seus progressos pessoais e profissionais. É um pássaro que já se aventura a seus próprios voos-solo. E, por isso mesmo, o ninho ter ficado vazio, ao menos para mim, não foi necessariamente triste ou ruim.

Quem convive comigo sabe que costumo dizer que as mulheres com asas não moram em casas, mas sim em ninhos. E digo isso porque casa parece ser um local físico muito insípido e impessoal. Os ninhos, ao contrário, são construídos artesanalmente, com amor e dedicação. Às vezes eles demoram anos para ser finalizados. E por isso mesmo, de uma certa forma, têm muito mais valor.

Eu amo a minha morada. É aqui que me encontro a mim mesma no final de cada dia. É aqui que guardo meus tesouros preciosos e também aquelas coisinhas aparentemente sem importância, mas que contam a história da gente. Tenho uma gavetinha onde estão armazenadas todas estas lembranças e quando estou prestes a me desconectar de mim, reavivo minha memória examinando aqueles pequeninos objetos carregados de emoção.

Meu ninho é o local do meu repouso, da minha meditação, das minhas orações. É também o lugar onde posso preparar nutritivas refeições e onde posso ouvir música, dançar e cantar. E é por isso  que tenho tanto respeito por ele.

Vira-e-mexe, acontece de eu me ausentar, como aconteceu nestes últimos dois meses. Mas nunca deixei de me lembrar que ele ficou ali, me esperando como sempre esteve, e a postos para me receber de volta de maneira afável e íntima.

Sinceramente, não vejo a história do ninho vazio como uma desvantagem na vida das mulheres com asas. Se você ficou sozinha porque motivo seja, mesmo que sua única atividade tenha sido dedicar-se à família pelos últimos mil anos, acho que é hora de você aproveitar com exclusividade  o seu precioso ninho. Se puder, mude alguns móveis, objetos ou as cores das paredes. Compre alguma coisa nova e não se esqueça de sempre manter algumas flores frescas no seu quarto. Abasteça sua geladeira com alimentos saudáveis e saborosos e seu guarda-roupa com itens do seu próprio gosto. E, principalmente, trate de você mesma com carinho e cuide do seu desenvolvimento pessoal. Corra para um novo trabalho, para um novo curso, para uma nova atividade. Aproveite a bênção do tempo livre que a vida agora te deu. E estabeleça laços muitos sérios com seu ninho, porque é ele quem te receberá no encerrar de cada dia.

E se, a final, qualquer hora você estiver cansada dele, como pode acontecer em qualquer relacionamento, tire um tempo e fique longe. Sem traumas e sem ressentimentos.

Quando você voltar, tenho certeza de que vocês farão as pazes e que você terá imenso reconhecimento e gratidão à vida por ter um abrigo cálido à sua espera e uma confortável cama que te abraça todas as noites sem qualquer exigência ou repreensão.

(Texto originariamente publicado em 12/08/12. Foto: HD Free Wallpapers).

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O AR QUE EU RESPIRO

No ano de 2010, resolvi fazer o famoso trekking até o Campo Base do Everest, seguindo trilha a partir do Nepal. Sei que esta história já até virou rotina neste Blog, mas preciso dizer que, mais uma vez, não consegui encontrar um boa alma que encarasse a aventura comigo. Aliás, quanto a esta questão, devo admitir que, após repetidas experiências, tornei-me um pouco cética quanto à possibilidade de encontrar companheiros de viagem para as minhas escolhas. E, assim, passei a buscar eu mesma o que havia de disponível no mercado. É claro que esta viagem não pode ser realizada sem uma equipe. Tratei, então, de pesquisar as agências brasileiras que organizam grupos e, depois de alguns telefonemas, acabei fechando com a Venturas e Aventuras para a saída do mês de outubro daquele ano.

Meus dois joelhos são operados e tive receio de sentir dores no percurso, pois são muitas horas de caminhada durante aproximadamente dezesseis dias na montanha. Dediquei-me, portanto, um bom trabalho de isometria que deu muitíssimo certo.  Não senti nenhum incômodo. Além disso, rapidamente comprei uma bota para amaciá-la, o que se mostrou absolutamente essencial. E, ainda antes da nossa partida, tivemos uma reunião na agência de turismo para conhecermos os demais passageiros. O grupo era formado por cerca de doze pessoas avulsas, mas não necessariamente solteiras ou descasadas. O fato é que o gosto por este tipo de viagem é algo tão específico que, ao menos ali, não foi possível reunir sequer um casal. Os casados que havia seguiram sós com seus devidos alvarás conjugais.

A viagem até Kathmandu, Capital do Nepal, é bastante longa. Seguimos via Istambul, o que foi muito bom, pois, praticamente pelo mesmo custo, um outro país acabou por ser incluído no roteiro. É certo que não deu para conhecer muita coisa. A única pernoite, porém, me deixou com muita vontade de retornar à Turquia. De lá, seguimos para Delhi, onde tivemos mais uma noite antes de seguir a Kathmandu. E, desta Capital, pegamos aquele famoso aviãozinho que aterrissa em Lukla, aos pés do Himalaia, em uma pista de pouso curtíssima e que termina em inclinação ascendente para que a aeronave consiga frear a tempo de não deslizar para fora. E é ali, em Lukla, que a aventura propriamente dita se inicia.

A rotina dos dias na montanha é mais ou menos a seguinte. Suas pernoites são feitas em lodges, que são uma espécie de hospedarias muitíssimo simples. Nos primeiros vilarejos, ainda é possível que você consiga se alojar em um quarto com banheiro. Mas, conforme você vai avançando, esta comodidade simplesmente deixa de existir e, a depender do local, você poderá encontrá-la no fundo do corredor ou do lado de fora, a alguns metros de distância. A água quente é rara também e você tem que pagar por ela para utilizar um sistema de baldes. Abro aqui um parêntese. O frio que senti na montanha foi tão intenso e os banhos se mostraram tão desconfortáveis, que transformei este hábito em gênero de quinta necessidade. Que ninguém me ouça.

As paisagens do trajeto são exuberantes e você chega a se questionar se por acaso não mudou de planeta sem perceber. E o povo é tão simpático e amoroso que você se desconecta da palavra cansaço, mesmo após muitas horas seguindo a pé montanha acima.

É claro que a viagem não é fácil e que isso não é novidade para ninguém. Mas o ponto crucial do sucesso é mesmo a resposta do seu corpo à ausência de oxigênio. Com o passar dos dias, o ar realmente começa a faltar e coisas estranhas podem acontecer no seu organismo. No meu grupo, houve pessoas que não puderam prosseguir em razão de reações orgânicas que o conhecido “mal da montanha” acabou por provocar. Não senti efeitos impactantes no meu corpo, à exceção de uma crônica dor de cabeça e de algum mal estar à noite. Mas, bem ou mal, e com a ajuda de muitos comprimidos, acabei prosseguindo e cheguei até o meu objetivo. Depois disso, confesso, senti-me esgotada para começar a descida e, junto com outros dois companheiros de jornada, rateamos o custo de um helicóptero para antecipar o retorno a Kathmandu. Boa escolha.

Obviamente, é impossível narrar em uma única postagem tudo de bom e de ruim que acontece numa longa viagem. Mas o que eu quero deixar claro é que, apesar das adversidades, a jornada valeu muito a pena. Valeu apesar do desconforto, das restrições, das dores, do cansaço, do peito arfando, do frio, da comida, de pessoas não muito legais, de alguns guias despreparados e de muitas situações inconvenientes. Afirmo e explico: quando você se encontra em situações adversas, em que sequer o ar se acha convenientemente disponível, não há tempo para elocubrações. Os subjetivismos, as ponderações, as mágoas, as diferenças, a vaidade, a volúpia e toda a gama dos imponderáveis sentimentos humanos simplesmente desaparecem como em um passe de mágica. Na verdade, sob tais condições, tudo o que você deseja é viver e sobreviver. É incrível como uma mera viagem pode mudar a perspectiva de toda uma vida. No meu caso, esta percepção foi imediata e jurei a mim mesma parar de reclamar por qualquer bobagem ou insatisfação.

E embora eu não deva me intrometer na vida alheia, quando vejo alguém protestando e sofrendo inutilmente, minha vontade é de simplesmente dizer à pessoa: “você reparou que você está respirando?”. É quase o que basta para que possamos permanecer de pé no planeta.

Sendo assim, quando você se sentir contrariada, respire, inspire, expire e relaxe. E você perceberá, então, que a salvação e a cura da sua alma podem, miraculosamente, residir no plano do próprio invisível. E, o melhor: sem necessidade de fé, crença ou religião.

(Texto originariamente publicado em 25/05/12. Foto: Pinterest)

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UM SÁBIO CHAMADO TEMPO

Era uma vez um sábio chamado Tempo. Tempo era tão culto e erudito que, nos quatro cantos do mundo, era conhecido como o Senhor da Razão. Tempo não falhava. E também não faltava. Não falhava porque, mais dia, menos dia, as coisas confiadas a ele sempre acabavam por acontecer. E não faltava porque nunca se recusou a estar à disposição das coisas e das pessoas. Entretanto, apesar de sua notável perfeição e sapiência, Tempo nunca foi um ente muito bem compreendido e parte disso sempre se deveu à dificuldade de aceitar que, contra ele, não existem argumentos ou ações. Tempo é soberano e é praticamente intransponível.

Em um certo sentido, Tempo tem sido acusado de ser cruel e implacável. Através de seus olhos, é possível observar-se a beleza, a saúde e a vida se esvaindo até seu completo desaparecimento. E não há ninguém, nem ciência e nem religião, capaz de deter esta força. Questionado sobre tais angústias humanas, Tempo tem se limitado a responder que as coisas simplesmente são assim. E são assim porque nada no mundo é estático e porque o fluxo da vida segue em uma direção de mão única. Cada célula dos nossos corpos encontra-se em processo de envelhecimento desde ao menos o dia do nosso nascimento. E, se é assustador pensar assim, serve de alento o fato de que esta é uma verdade fisiológica universal, comum a todos os seres vivos.

Tempo tem explicado que, na vida, as coisas tem um começo, um meio e um fim e que acontecem como têm que acontecer, por razões muito intrincadas e complexas relacionadas com esta enorme teia de interações que rege o universo. Sendo assim, por mais que alguém se esforce, é impossível apreendê-las e retê-las.

Mas Tempo tem também um lado muito benevolente. É por meio de sua ação que a maior parte do sofrimento humano transforma-se em mera lembrança e é pela graça de suas mãos que uma enorme gama de problemas acaba se resolvendo de uma forma bastante natural e quase milagrosa. Tempo é curativo, eficiente e aliviador. Basta ter paciência, o que, entretanto, não parece ser muito fácil.

Em meio a dores e inquietações, o homem tem pressa em entender o que com ele se passa. Quer saber porque algo aconteceu ou deixou de acontecer, principalmente quando o resultado esperado não é atingido. Quer saber porque caiu, perdeu, fracassou, faliu, foi traído, foi trocado, foi ofendido, foi magoado, foi agredido, foi desrespeitado. Ingenuamente, procura conselhos e respostas imediatas. Ele ignora que a compreensão exata dos acontecimentos depende do Tempo. Após repetidas experiências, deveria ter a humildade de aceitar este postulado universal e simplesmente saber esperar.

Tempo também foi indagado sobre estas questões e sobre o funcionamento deste mecanismo. Ele ilustrou da seguinte maneira: “Imagine que você estivesse observando um enorme tabuleiro. Você concorda que seria possível, ao observador, explicar e prever as interações, os encontros e as quedas de cada um dos pequenos seres que caminham sobre a superfície? Ter esta visão é como conhecer o passado, o presente e o futuro”.

Nós, seres humanos mortais, não possuímos este dom, pois fazemos parte deste tabuleiro. Nossa visão é muito parcial e limitada e não conseguimos olhar em todas as direções com o alcance necessário. Somos tão minúsculos em meio a aquela teia que nunca chegaremos a compreender todas as causas, consequências e condições.

Há, porém, a possibilidade de algumas respostas. Aguardando o necessário, poderemos olhar para trás e então, já com um certo distanciamento, conseguiremos ver com alguma clareza os caminhos percorridos até um determinado resultado. Esta é a bondade do Tempo. Se ele não nos confere a dádiva de antever o futuro, ao menos nos concede meios de compreender o passado e, consequentemente, o presente.

Se hoje você tem questões não respondidas, aguarde mais um pouco. Seja gentil com você mesma e com o Tempo. Não se agrida, não se torture, não se esgote. As respostas possíveis virão quando você tiver caminhado mais além e quando houver subido a montanha que lhe fará enxergar melhor os rastros da sua existência. E quando você tiver alcançado o topo de sua fé e da sua alegria, o Tempo, em sua ação que nunca falha, trará a cura e erguerá, com suas asas, o véu de muitos mistérios.

(Texto originariamente publicado em 21/05/12. Foto: Walldevil)

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LIBERDADE EXISTE?

Para quem não sabe, mantenho no Facebook uma página oficial e um grupo de discussão, ambos homônimos deste Blog. Tem sido uma experiência muito amorosa e enriquecedora dividir o afeto e a amizade com muitas Mulheres Com Asas, que, ali, têm a possibilidade de compartilhar os seus sentimentos e as suas vivências. Como já comentei anteriormente, este Blog nasceu da vontade de contar a outras mulheres como tem sido viajar sozinha há mais de quinze anos, para destinos muito variados. E, de uma certa forma, ele tem alcançado a sua missão, pois muitas mulheres me escrevem para narrar que tomaram a decisão de empreenderem seu primeiro voo solo depois de conhecerem um pouco mais a dinâmica desta  espécie de jornada.

Curiosamente, alguns homens também me escrevem e participam ativamente da página oficial e do grupo, o que, na realidade, revela-se alentador. Para as céticas de plantão, informo que pude apurar que existem, sim, muitos homens sensíveis, compreensivos e que se interessam pela alma feminina. Há uma luz no fim do túnel.

No dia de hoje, um dos leitores do sexo masculino e que não conheço pessoalmente, fez duas postagens no mural do grupo, afirmando, categoricamente, que não existe independência e que a liberdade é uma ilusão. Confesso que, à primeira vista, os comentários me pareceram um pouco inadequados para o conteúdo da página. Lembrando-me, porém, que estou numa empreitada no sentido de compreender melhor as atitudes e pensamentos humanos, recuei dois passos em meu julgamento condenatório e achei melhor repensar, por mim mesma, as colocações daquele leitor. E passei a me perguntar, então, se a liberdade existe mesmo ou se me encontro vivendo em um universo paralelo e totalmente dissociado da realidade.

Não me filio a nenhuma linha religiosa específica. Porém, devo admitir que, em grande parte, a filosofia oriental atende aos meus mais legítimos anseios de ter respondidas aquelas perguntas primordiais que formulamos desde o dia em que começamos a raciocinar.

Sendo assim, é claro que entendo perfeitamente que o universo, dentro dos limites de grandeza que podemos vislumbrar, é uma gigantesca teia de interações, quer percebamos ou não. Até o nosso piscar de olhos provoca imperceptíveis movimentos na atmosfera, os quais, reverberando, produzem reflexos concatenados a interferirem na dinâmica atômica de todo o planeta. E, sob esta ótica, é possível mesmo afirmar-se sobre a interdependência de todos seres.

Liberdade é outra coisa. Embora estejamos associados e interligados a tudo o que existe de material e imaterial, há algo dentro de nós que parece ser exclusivo. Dependendo da sua crença, filosofia ou religião,  você poderá chamar essa essência de alma ou de espírito. Até mesmo se for ateia, há de concordar que suas ondas cerebrais atuam numa frequência diferenciada, capaz de tornar você um ser humano único.

E é justamente o reconhecimento desta individualidade que permite aos seres humanos sentirem-se livres,  haja vista que, neste estágio de consciência, você não se interessa em imitar alguém ou ser outra pessoa que não você mesma. Até porque é impossível emular as sutilezas da mente humana.

E é por isso que eu defendo, sim, a ideia de que a liberdade existe e que não está atrelada a nenhuma condição, tal seja o seu estado civil, origem, raça, idade, aparência ou capacidade econômica. E ela existe porque dentro de você há algo que é só seu e que é intangível a tudo o mais que possa existir. E exatamente  porque passa ao largo de todas as considerações humanas, aquela centelha elementar que ilumina o seu ser  permite que nela você inspire seus mais elevados sentimentos, como alguém que acende um fósforo na chama de uma vela.

E se você quiser reformular sua linha de raciocínio, pergunte a si mesma por que a liberdade não haveria de existir se dentro de você há um universo inteiramente seu.

Não sou dona da verdade e nem sei se ela tem dono. Mas tenho, para mim, que o expoente máximo da liberdade consiste em sentir e agir de maneira coerente com os contornos do seu Jardim do Eden, que não está sujeito à avaliação de mais ninguém. Ali, você faz o que deseja, arruma e planta como quiser, pinta, borda, dança, corre, voa, escreve, canta, encanta-se e sacia sua sede em fontes cristalinas. Chora e ri. Cai e levanta. E isso não é da conta de ninguém.

Não desrespeito a incredulidade e apenas lamento que não tenho como provar que a liberdade realmente existe. E sei que ela existe porque a vejo dentro de mim. Acredito naquilo que quero acreditar. E isso também é liberdade.

E se alguém ainda duvida e quer pelo menos um pequeno indício de que ela é real, lembre-se que mesmo sem o seu corpo físico você ainda é você. E lembre-se também que até um prisioneiro é capaz de sonhar e de contar as estrelas do céu.

(Texto originariamente publicado em 25/04/12. Foto Barefoot Blonde)

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AS INCERTEZAS DA VIDA

A vida é cheia de incertezas. Incertezas de vários tipos e que se manifestam de muitas formas diferentes. Existe a incerteza que tem a ver com a sua falta de definição a respeito de um determinado assunto. É a ausência de segurança quanto à decisão que precisa ser tomada. Existe também aquela incerteza que é uma espécie de desconfiança. É a dúvida sobre um fato estar ocorrendo, ou não. E existe a incerteza própria do mundo e da vida, que é a que considero a mais relevante, pois, na verdade, por mais que a gente tente, não pode ter controle sobre os acontecimentos futuros, nem mesmo sobre os presentes. Na realidade, a gente só consegue ser razoavelmente feliz quando reduz significativamente o nível de expectativas, pois a materialização destas também se insere, obviamente, neste impalpável campo das incertezas. Ou seja, aquilo que desejamos pode ou não acontecer.

O ser humano abriga a ilusão de que “querer é poder”. É claro que a dedicação e o esforço contam muito, mas o elemento imponderável está em todas as equações. A insistência e a perseverança podem aumentar as possibilidades de modo a que estas se tornem probabilidades. Mas ainda assim não são certeza. E nunca serão.

No dia de hoje, na véspera desta nova viagem, não estou ansiosa. Ao contrário, estou totalmente receptiva a todas as ocorrências que se apresentarem à minha frente ao longo dos próximos dias. E não digo isso à toa, mas, sim, porque tenho insistido comigo mesma neste ponto: o de aproveitar as oportunidades tal qual se manifestam.

No íntimo do meu ser, talvez eu desejasse, neste momento, estar vivendo algo diferente, fazendo algo diferente, usando um formato diferente… Mas a vida (ah… sempre a vida) desejou que fosse assim e cabe a mim obedecer estas tais contingências e aceitar as exigências destinadas à minha existência.

E, desta maneira, vou traçando meu próprio caminho, buscando tirar o melhor de cada experiência e de cada situação para tornar-me, igualmente, um ser humano também melhor.

Estou indo sozinha e meus amigos seguem seus próprios destinos, alguns de viagem, outros não. Mas o bom de tudo é que, quando compreendemos algumas regras da vida, sabemos que, na realidade, estamos todos juntos na mesma embarcação, cada um à sua maneira, mas sempre com o mesmo objetivo: o de sentir a paz e a serenidade que, se pensarmos bem, podem ser encontradas em qualquer lugar. Aqui ou em viagem, elas habitam, há muito tempo, dentro de nós. E que elas possam desabrochar. Até breve!

(Texto originariamente publicado em 27/01/12. Foto: Favim).

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LUBRIFICANDO AS ASAS

Toda vez que minha vida emperra, fico pensando que ali, bem naquele ponto, há algo para aprender. Mas dificilmente descubro o que é. Aliás, para ser justa comigo mesmo, acabo descobrindo, sim. Mas, na maioria das vezes, tanto tempo depois do acontecido, que chego a ficar triste pelo fato de que, à época, eu tenha sofrido à toa. Aprender parece ser a missão básica da humanidade. Sem o aprendizado, um ser humano não pode sequer sobreviver. Ele tem que saber o mínimo nem que seja apenas para permanecer em pé sobre a face da Terra.

Muitas pessoas viram as costas ao conhecimento, ao argumento de que este não resolve as suas vidas. Mas, se isso pode ser correto, não menos verdadeiro é o fato de que também não será a ignorância que solucionará os seus problemas. Seja como for, gosto é gosto e cada um deve viver de acordo com suas próprias convicções. E, de todo modo, diferentemente do conhecimento, a verdadeira sabedoria parece mesmo estar sempre dentro de nós.

Existem muitas formas de aprender e muitas vezes exige-se o esforço de nossa parte. Felizmente, há, também, maneiras bastante prazerosas de agregar conhecimento. Uma delas é viajar, pois, se para aprender algo você não precisa viajar, eu diria que é impossível viajar sem aprender.

Como eu mencionei nas primeiras postagens do blog, hoje em dia você encontra quase tudo em termos de viagens, o que certamente aumenta, em muito, as razões para bater suas asas.

Existem agências especializadas em viagens de conhecimento. E elas são absolutamente fantásticas. Normalmente, elas divulgam um calendário já idealizado para que os grupos possam se formar. E estes grupos sempre são liderados por um “expert” no assunto. Aqui no Brasil, temos a Latitudes, que faz um trabalho primoroso. Nunca viajei com eles, mas conheço pessoalmente alguns dos especialistas. Só a visita ao “site” já vale muito. Há roteiros e fotos incríveis. A americana Wander Tours é também excepcional. Além de destinos fantásticos, a agência criou um segmento chamado Women-Only, com programas adequados ao gosto feminino.

Além disso, se você não tem companhia para viajar, é extremamente interessante buscar este tipo de viagem, em que sempre há outras mulheres na mesma situação que você.

Querida viajante, não é possível saber o que será de nós mesmas no dia de amanhã, nem mesmo com todo o conhecimento do mundo. Nosso futuro é sempre incerto e desconhecido. Há uma verdade, porém, de caráter absoluto e da qual ninguém pode fugir: sem preparar-se e sem treinar as suas asas, nem mesmo um pássaro pode voar. Mãos à obra.

(Texto originariamente publicado em 11/02/12. Foto: Pinterest)

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