Muitas pessoas ficam admiradas quando comento que viajo sozinha e consideram isto um ato de coragem da minha parte. Outras tantas, porém, olham-me um pouco intrigadas, o que me permite perceber que, nos esconderijos de suas mentes, estão investigando as razões pelas quais isso acontece. Quando noto esta inquietação, trato logo de explicar e, em questão de segundos, aquilo que parecia um mistério insondável desmistifica-se, pois, na realidade, não há segredo nenhum a ser desvendado.

Meu primeiro voo solo aconteceu em 1996, ano seguinte ao do meu divórcio, durante o período das minhas férias, que começariam logo após o Natal. Como eu pretendia ir ao Canadá, é óbvio que não encontrei nenhuma alma que se dispusesse a viajar comigo para enfrentar o frio de cerca de -30 graus Celsius. É claro que fiquei um pouco temerosa, mas fui, ao estilo sem lenço e sem documento, com um mapa na mão, muitos casacos na mala e nenhuma reserva de hotel. E ali fiquei 35 dias, período em que tive a oportunidade de aprender muitas coisas sobre a vida e sobre os seres humanos.

A primeira grande lição que tive foi a de que há pessoas generosas e solícitas no mundo. Além disso, existe uma empatia natural dos demais turistas quanto aos viajantes solitários, de modo que você só ficará completamente sozinha se for uma pessoa socialmente inviável.

Em segundo lugar, quando você começa a conversar com desconhecidos, estes tendem a remover seus filtros e máscaras, o que permite aferir que suas vidas não são necessariamente melhores do que a sua. Não existe qualquer razão, portanto, para você sentir-se inferiorizada sob nenhum aspecto.

Por fim, não sei se isso é bom ou ruim, mas a verdade é que as pessoas sempre estão ocupadas demais com suas próprias questões para se incomodarem com o fato de que você esteja viajando sozinha ou acompanhada. Isto não faz a menor diferença na vida delas.

Compreendendo, assim, estas três regrinhas de ouro, afastei qualquer sentimento de vergonha, constrangimento ou inadequação, tanto que, após esta primeira experiência, viajei sozinha dezenas de vezes, em circunstâncias muito variadas.

Para finalizar, quero deixar claro que nem sempre viajo sozinha. Evidentemente, quando possível, viajo com meus pais, com meu filho, com meus amigos e, quando estou em algum relacionamento, com meu parceiro. A diferença é que, quando não há ninguém disponível por falta de tempo, de dinheiro, de vontade ou de interesses coincidentes, sigo sozinha da mesma maneira.

Aprendi, com o tempo, a não desperdiçar aquilo que a vida oferece como possível naquele momento. Sendo assim, aproveitar a oportunidade é, talvez, uma resposta única para tantas e tantas perguntas. Sem nenhum mistério. Sem nenhum segredo.

(Texto originariamente publicado em 04/01/12. Foto: Pinterest).

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