No momento do parto nascem dois seres: o bebê e a mãe. E, a partir de então, o choro de um é o choro do outro por toda a eternidade. Antes do nascimento, a mãe tecnicamente não existe. Ela nasce somente quando seu filho chega ao mundo e, por esse motivo, a gestação deve ser considerada uma maravilhosa fase da vida porque permite o nascimento de ao menos duas pessoas. O filho e a mãe, naquele momento, nada sabem sobre os meios de enfrentar o desafio de vivenciarem suas novas experiências.

Por mais vivida que uma mulher possa ser, ela é um recém-nascido quando se trata do instante em que ela ouve os sons do seu filho pela primeira vez. Uma mulher só conhece os sentimentos reais da maternidade quando se torna mãe. É claro que uma mulher que não tem filhos compreende, empiricamente, tais dores e prazeres. Porque cada mulher é, antes de tudo, também uma filha. Mas a essência das razões para cada ato afeto àquela condição é privativa e exclusiva daquela que gerou um filho.

De uma certa forma, quando nasce a mãe morre algo na mulher. A definição não é precisa, mas o que eu estou tentando dizer é que as alterações das prioridades ocorrem de modo tão profundo que parte da qualidade feminina não pode ser exercida. Enquanto um filho é dependente de sua mãe não existe campo para o exercício integral dos atributos do feminino. Mas as experiências que decorrem da maternidade são tão ricas e inebriantes que a mulher sequer considera que tal modificação, em outro contexto, poderia ser considerada uma perda. Para a mãe, todos os atos em prol de seu filho são ganhos inquestionavelmente significativos. E, assim, a mãe prossegue na saga de criar o seu filho, de amá-lo, honrá-lo e ensinar a ele tudo o que for da esfera de seu conhecimento.

Mas a vida não é um vetor voltado para uma única direção. A mãe também aprende com seu filho e, nesse sentido, dele também é filha. E esta concessão, porque aparentemente surpreendente, aumenta ainda mais o sentimento de admiração que uma mãe pode ter por seu filho. De uma certa maneira, o filho já se fez e, graças ao que ele pôde aprender por si próprio, em tenra idade já é capaz de ensinar.

O tempo passa e o filho cresce e haverá um momento em que ele não mais será dependente de sua mãe. Este momento não é necessariamente definido pela independência econômica ou por conta da superação de conhecimento do filho em relação à sua mãe. Reduzir esta premissa aos pobres parâmetros da capacidade financeira e do aprendizado é menosprezar a complexidade desta relação. Não sei definir o momento em que isso acontece, nem como filha, nem como mãe. Mas é inequívoco que certos distanciamentos, em alguns momentos da vida, produzem profundo impacto, tanto na mãe quanto em seu filho.

De uma certa forma, há um tempo em que o filho passa a fazer as coisas por si mesmo e a presença física da mãe já não é uma necessidade estrutural e orgânica. Não se pode dizer que isso seja bom ou ruim. É apenas a constatação do fluxo natural da vida, que deve ser aceito com a naturalidade de quem compreende as quatro estações do ano. Este ciclo existe e pouco importa que você ame o verão e deteste o inverno. Sua opinião não é relevante para as leis da natureza.

Mas tudo o que muda e morre propicia o renascimento. E este renascimento não significa a morte da mãe. Ao contrário, ele exprime a beleza da transformação da paisagem do tempo. As flores nascem viçosas após o derretimento da neve.

Neste Dia das Mães, eu desejo a todas as mães do mundo e a mim mesma a compreensão das estações da vida. Desejo que cada uma das mães bem conheça estes ciclos de nascimento e de renascimento. Desejo que, em gratidão à dádiva desta qualidade, cada mãe bem exerça o papel de geradora de filho, de mãe e de mulher. Porque dar à luz um filho é dar à luz a sua própria pessoa. E desejo, por fim, que cada mãe tenha em mente que as alternâncias das estações representam, em última instância, o desenho da própria eternidade.

(Texto publicado originariamente em 12/05/12. Foto: Wallpaperfo).

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